Mercados emergentes são caracterizados por demanda reprimida e concorrência pulverizada. Suas companhias são conhecidas, em regra, pelas histórias de crescimento. Natural que os investidores busquem, nesses mercados, ações de empresas com potencial de crescimento seja por via orgânica ou consolidação do setor. Esses papéis possuem múltiplos altos e menor propensão a distribuir dividendos. A estratégia oposta, o ”value investing”, é apostar em ações com múltiplos baixos nos quais o preço da ação em relação ao valor contábil ou ao lucro por ação se encontra defasado. Mas será que o “value investing” funciona no Brasil, um mercado emergente?
Paulo Guedes e a isenção fiscal dos dividendos
No segundo semestre de 2004, a Telefônica – ainda apenas uma operadora de telefonia fixa, antes da consolidação com a Vivo – aumentou os dividendos distribuídos. Suas ações, que negociavam com desconto em relação às da Telemar (atual Oi) com base no múltiplo FV/Ebitda, se apreciaram. Na época, trabalhando como analista e “portfolio manager” na gestora do BankBoston, suspeitei que aquela valorização decorresse principalmente da elevação do retorno com dividendos (“dividend yield”). Mas não tinha como provar, pois poderia ser derivada de outras razões.
Carreguei essa dúvida por quase 15 anos. Minha dissertação do Mestrado em Economia do FGV/EPGE confirmou a minha suspeita: o “dividend yield” influencia o retorno das ações das empresas brasileiras. Por que isso ocorre? O fim da isenção fiscal dos dividendos estudada pelo ministro Paulo Guedes pode afetar o retorno das ações brasileiras?
O que realmente impacta o preço das ações?
Como a Bolsa pode ajudar na recuperação da economia?
O mercado acionário permanece desconhecido para a maioria dos brasileiros. Vários consideram a aplicação em ações uma atividade meramente especulativa. Mas acreditem: o mercado acionário pode contribuir para elevar o nível de investimentos da economia, contribuindo para a recuperação econômica. 2019 deve comprovar essa tese.
Vale: o risco do investimento da Previ
A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, participou ativamente das privatizações da década de 90. A mineradora Vale passou à iniciativa privada em 1997 com a vitória do consórcio Brasil composto por CSN, Previ, Petros, Funcef e outros investidores. A participação dos fundos de pensão nas privatizações da época foi incentivada pelo governo federal de forma a gerar concorrência entre os interessados.
A expressiva valorização das ações da Vale desde então e o impedimento de vender suas ações fez com que a Previ concentrasse 25% do seu patrimônio em ações da empresa. Essa posição fere o princípio da diversificação impedindo uma melhor composição entre risco e retorno. Há alternativas para redução da exposição a Vale mesmo sem se desfazer das ações.
Judiciário “rouba” valor das cias brasileiras
As empresas nacionais listadas em Bolsa merecem negociar com desconto em relação a empresas similares de países desenvolvidos devido ao nosso maior risco país. Além das incertezas macroeconômicas, estudo mostra que o montante das contingências derivadas de brigas judiciais e administrativas nas empresas locais é superior à observada no mundo, gerando mais uma fonte de risco.
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