A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, participou ativamente das privatizações da década de 90. A mineradora Vale passou à iniciativa privada em 1997 com a vitória do consórcio Brasil composto por CSN, Previ, Petros, Funcef e outros investidores. A participação dos fundos de pensão nas privatizações da época foi incentivada pelo governo federal de forma a gerar concorrência entre os interessados.
A expressiva valorização das ações da Vale desde então e o impedimento de vender suas ações fez com que a Previ concentrasse 25% do seu patrimônio em ações da empresa. Essa posição fere o princípio da diversificação impedindo uma melhor composição entre risco e retorno. Há alternativas para redução da exposição a Vale mesmo sem se desfazer das ações.
A Previ hoje detém ações votantes da Vale por intermédio da Litel que reúne ainda as participações da Petros (fundo de pensão da Petrobras), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Funcesp (de algumas empresas do setor elétrico de São Paulo). Como informado pelo Valor em 29 de janeiro, no primeiro pregão após o desastre de Brumadinho, a Litel perdeu R$ 16 bilhões com a queda das ações da mineradora. A Previ possui 80,6% da Litel. Assim, apenas nesse dia, sua perda foi de R$ 13 bilhões caso contabilize sua participação pelo valor de mercado. A fatia da Previ na Vale representava cerca de 50% da participação em renda variável e 25% do patrimônio total.
A Previ, por muito tempo, teve dificuldades de vender sua participação em Vale, pois a Litel não detinha diretamente ações da Vale, mas da Valepar, empresa de capital fechado e controladora direta da mineradora. A reestruturação societária ocorrida em 2017 simplificou a estrutura societária, eliminando a Valepar e transferindo as ações da Vale aos acionistas indiretos como Litel e Bradespar.
Hoje, a Litel detém 21% das ações ordinárias da Vale, sendo que 10,1% estão restritas por acordo de acionistas, sendo liberadas apenas em 2020. Considerando o preço de 4 de fevereiro, a Previ detém cerca de R$ 40 bilhões em ações de Vale. A diretoria da Vale já havia sinalizado a intenção de vender parte das ações da Vale ao longo de 2019, estratégia que deve ser reavaliada após o desastre. Embora seja um investimento de longo prazo e o fundo não tenha urgência por liquidez, uma exposição elevada em apenas um emissor privado viola a regra de investimento de não concentrar muitos ovos na mesma cesta. Uma possibilidade que a Previ teria para reduzir a exposição líquida às ações da Vale é realizar um contrato de swap com uma contraparte de forma a ceder a rentabilidade da Vale para esse agente em troca de receber uma rentabilidade atrelada ao CDI. Outro caminho, mais difícil devido ao tamanho da posição, seria alugar ações de Vale de terceiros e vendê-las em seguida. Assim, em caso de queda do preço da ação, a parcela “vendida” teria ganhos, minimizando a perda da parte comprada. Por fim, outra estratégia para fazer o hedge da posição seria uma operação de “collar option”, comprando puts fora do dinheiro e emitindo calls também fora do dinheiro. As estratégias sugeridas, a princípio, não ferem a Resolução 4.661 que regula os investimentos das entidades fechadas de previdência complementar. Embora tenhamos usado o caso da Previ como exemplo, essas alternativas valeriam para os demais fundos de pensão acionistas da Vale.
Situações extremas como a ocorrida em Mariana e Brumadinho desvelam o risco que alguns investimentos, aparentemente seguros, correm. Cabe aos gestores avaliar as melhores alternativas de forma a alcançar um equilíbrio adequado de risco e retorno.
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