No livro Essays of Warren Buffett – Lessons for Corporate America, Lawrence Cunnigham organizou as cartas anuais da Berkshire Hathaway, veículo de investimento de Buffett, por temas. As ideias do conhecido investidor americano sobre dividendos se encontram no capítulo Common Stocks. Como sempre suas ideias fogem do senso comum.
Buffett acredita que o lucro não deve ser distribuído aos acionistas caso os novos investimentos possuam taxas de retornos superiores à mínima requerida. O administrador deve observar se existem oportunidades de investimento nos seus negócios atuais para torná-los mais eficientes, expandir sua área de atuação, aumentar sua linha de produtos ou qualquer coisa que possa distanciá-los de seus competidores.
Após analisar as oportunidades nas suas áreas de atuação, a Berkshire deve prospectar aquisições não relacionadas aos negócios atuais. O objetivo dos gestores é que os investimentos façam com que o preço por ação aumente.
Apesar de poder estudar aquisições ou investimentos em diversos setores devido à operação diversificada da Berkshire, Buffett reconhece que fazer aquisições que tragam retorno não é uma tarefa fácil. Ele recorda, por exemplo, a perda incorrida pela Berkshire no segmento têxtil. Além disso, existe o conflito de agência. Administradores podem buscar aquisições em benefício próprio, pois companhias de maior porte tornam-se alvos mais difíceis de serem adquiridos pelos competidores e, em regra, remuneram melhor seus gestores.
Buffett lembra ainda que com o crescimento da Berkshire torna-se mais difícil encontrar projetos atrativos de porte que afetem de forma significativa o resultado consolidado da companhia.
Caso não surjam investimentos atrativos na sua área de atuação ou em novas áreas, o caixa excedente da companhia deve ser destinado a recompra de suas próprias ações. Esse programa deve ser executado quando o valor de mercado da ação for inferior a seu valor intrínseco. Buffett até brinca: “É difícil estar errado quando se está comprando um dólar por 80 centavos ou menos”. Originalmente a métrica usada pela Berkshire era recomprar pagando no máximo 110% do valor patrimonial, mas eles reviram o preço-teto para 120% na carta de 2012.
Buffett acredita que muitas companhias aprovam programas de recompra apenas por ter excesso de caixa ou para compensar emissão de ações feitas anteriormente. A importante comparação entre o valor de mercado e o valor patrimonial não é levada em conta.
O desejo de Buffett é que os acionistas permaneçam investidos por um longo tempo. A saída do investidor a um valor inferior ao valor intrínseco é negativa economicamente. Mas cada acionista conhece suas necessidades. Dessa forma, Buffett defende que os investidores que estão saindo estejam sempre informados da política de recompras da companhia.
Mas, apesar dessas explicações, alguns acionistas ainda gostariam de ter um fluxo de renda periódico proporcionado pelos dividendos. Para esses, Buffett mostra que não faz sentido distribuir o lucro quando a companhia apresenta um retorno de 12% ao ano. Desfalcar o caixa com o pagamento de dividendos reduziria o ritmo de crescimento da empresa. Ele propõe uma alternativa. Caso queiram obter um fluxo de renda, esses acionistas poderiam anualmente vender uma pequena parte de suas ações. No fim de 10 anos, suas ações remanescentes teriam um valor superior ao cenário no qual um terço do lucro fosse distribuído anualmente e não houvesse venda de ações.
Buffett enumera ainda dois inconvenientes de uma política de dividendos: (1) a distribuição percentual do lucro é igual para todos os acionistas independente da necessidade de caixa de cada investidor e (2) a tributação incide sobre todo o valor de dividendos, enquanto o imposto na venda incide apenas sobre o ganho de capital (valor de venda menos de compra). Lembre-se que esse conselho não vale para as empresas brasileiras, pois aqui os dividendos são isentos (pelo menos por enquanto).
Buffett vê a distribuição do lucro como dividendos apenas como a última opção. Antes a empresa deve priorizar o reinvestimento ou a recompra de suas próprias ações. Apesar de essa estratégia ter se mostrado vitoriosa, ela desagradaria boa parte dos investidores locais.
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Exemplo recente pratico e simples eh o da Apple, que nunca distribuiu dividendos preferindo o reinvestimento nela propria, mas anunciou valor de mercado recorde e unico superando os 1 trilhao de dolares.
Bom dia!
Como sempre ótimo texto… não só pela alíquota de IR sobre dividendos é de 30%, mas penso que por eles terem o custo de oportunidade mais baixo a estratégia dele se sustenta.
Já aqui, além da isenção, temos custo oportunidade elevado, penso que dividendos reduz este custo.
Grande abraço!