Apesar da impopularidade, da falta de legitimidade e das fortes suspeitas de ilícitos que pairam sobre o atual presidente, medidas econômicas sensatas faziam os indicadores econômicos melhorarem como a queda do risco país, o fortalecimento da moeda nacional, a diminuição da inflação e a redução dos juros. Com a perspectiva da recuperação da situação fiscal, alguns ativos financeiros apresentaram excelente rentabilidade durante a gestão de Michel Temer como os títulos públicos de longo prazo indexados a inflação e a bolsa, por exemplo. Mas a delação da JBS parece ter posto um fim no atual governo.
Se o governo Dilma foi desastroso, seus defensores são criativos na criação de slogans. O título da coluna faz a paródia de um deles. Então, quais seriam as melhores opções para seus investimentos com o provável fim do governo Temer?
É difícil dizer se atravessamos nossa maior crise dado que somos pródigos em produzi-las. Mas se nos atermos as quedas do PIB e do PIB per capita, a atual é a de maior estrago.
Como já é comum, o ajuste se dá por inteiro sobre o setor privado. A grande maioria dos 14 milhões de desempregados veio de empresas privadas. A estabilidade do funcionalismo público e as restrições para demitir em sociedades de economia mista isolam essa parcela de trabalhadores dos efeitos da crise. Os empresários, especialmente os pequenos, e os profissionais liberais – médicos, dentistas, advogados – também são atingidos ao verem suas vendas recuarem vítimas de uma demanda esquálida.
O atual presidente tenta resolver a crise chamando, pela primeira vez, o setor público para ser parte da solução. A PEC dos Gastos e a Reforma da Previdência são chaves para conter o crescimento dos gastos públicos, circunscrevendo-os à capacidade do Estado de honrá-los. Outras medidas seriam benvindas e justas como a redução de privilégios como os gastos excessivos do Legislativo e a limitação dos vencimentos dos funcionários públicos ao salário dos ministros do STF, mas corporativismos a impedem.
Com a delação da JBS, o fim do governo atual é iminente. Mas o que assusta não é a saída do presidente, mas a falta de visibilidade de quem poderá substituí-lo. Quais serão as convicções do futuro presidente? O cancelamento ou a postergação das medidas de contenção fiscal deverá impulsionar o dólar e a inflação, bem como atrasar ainda mais a recuperação da economia.
Como não sabemos o futuro, precisamos reduzir riscos. Destinar parte dos recursos a ativos que possam se beneficiar com um dólar apreciado como ações de empresas exportadoras, BDRs de companhias estrangeiras, fundos cambiais ou contas no exterior é uma opção. A diversificação é ainda mais importante para quem tem dívidas em dólar.
A equação da restrição orçamentária do governo pode sinalizar para onde caminharão as variáveis macroeconômicas caso o governo tenha dificuldade de conter os gastos públicos. Isso nos ajuda na seleção dos investimentos. Embora pareça complicada, a equação é intuitiva. Ela é dada por:
(g – t) = b’ – (r – n)b + (π +n)m + m’, onde
g são os gastos do governo; t, arrecadação tributária; b’, emissão líquida de títulos públicos; r, taxa de juros reais (juros nominais menos inflação); n, taxa de crescimento real do PIB; b, estoque de títulos públicos; π, inflação; m, estoque de moeda na economia e m’, emissão de moeda.
As alternativas do governo para cobrir os gastos (g) são limitadas. Elevar tributos a fim de aumentar a arrecadação (t) é difícil, pois a carga tributária sobre o PIB já se encontra próxima a 40%, sufocando os agentes privados (sempre eles!). O espaço para a emissão de nova dívida (b’) é estreito tendo em vista que a razão dívida bruta sobre PIB vem se acelerando nos últimos anos. A incerteza gerada pelo desequilíbrio fiscal impede a queda dos juros reais (r) e a retomada da economia (n). Logo, não será por aí que haverá espaço fiscal para os gastos. Sem alternativas, caberá a inflação cobrir o rombo. Isso não é novo. Foi assim que o governo se financiou por décadas, até o Plano Real. E como se defender da inflação? Ativos reais como imóveis são uma possibilidade. O Tesouro IPCA+ e Tesouro IPCA+ com juros semestrais também são boas opções. Caso o investidor os mantenha até o vencimento, ele terá o juro real pactuado no ato da compra e seus títulos serão reajustados pelo IPCA, protegendo-se parcialmente da inflação. A proteção não é perfeita, pois o imposto de renda incide sobre toda a remuneração do papel: juros e inflação. Além disso, é necessário segurá-lo até o vencimento, pois a oscilação do preço do papel pode gerar perdas aos aplicadores.
O brasileiro deve repudiar a corrupção. Sempre. Mas deve também se preocupar com a incompetência dos governos. Ela pode custar até mais caro. Não estaríamos vivendo a penúria atual – com a possível retomada da inflação e com alternativas tão estreitas – caso tivéssemos tido governos responsáveis. Os erros da década de 80 ressurgem. Como diz a canção de Beto Guedes: “a lição sabemos de cor / só nos resta aprender”.
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nota 10, concordo 100%. Perfeito.
Enquanto os outros trabalhavam, o hexa candidato percorria o país discutindo paternidade do desvio (que conhece bem) do Rio São Francisco, e, negando a luz do sol, propagava interpretações favoráveis para fatos inegáveis… famoso, não vi, não sei…, agora, seguidores forçam as “diretas já” para aproveitar que largou na frente… e, também, a baixa escolaridade, e a falta de raciocínio lógico dos eleitores… o populismo é uma doença da alma…
Acho que os anos 80 não voltam nunca mais. Os keynesianos estão ainda no poder.