A implantação da república, segundo diversos autores, foi orquestrada pelas elites econômica e militar, sem qualquer adesão popular. A derrubada da monarquia fez Aristides Lobo, republicano que viria a ser futuro ministro do governo provisório, cunhar a frase que entrou para a história: “o povo assistiu bestializado à proclamação da República”.
Tal como nossos conterrâneos em 1889, a população e as companhias estão atônitas frente as crises ética, institucional e fiscal que se desenvolve no interior do Estado. Embora a situação seja preocupante, o governo tenta passar otimismo com uma pauta voltada para a resolução do problema fiscal com a limitação dos gastos do governo nos próximos anos e a reforma da previdência. Apesar desse esforço, por que a recuperação das empresas não deve acontecer no médio prazo?
O Estado brasileiro parece aquela família hospitaleira que ainda encontramos no interior do país. Cada viajante que chega é sempre bem recebido. Esposa, marido e os filhos os acolhem com sorrisos. A porta está sempre aberta. A refeição está sempre à mesa. Caso um banho quente seja preciso, uma toalha felpuda e sabonete são logo providenciados. Essa receptividade ganha popularidade nas redondezas. Cada vez mais hóspedes chegam. Por um tempo, a casa ainda continua acolhedora. Mas não demora para a própria família sofrer com sua benevolência. Os filhos começam a se alimentar mal. A despensa já não dá conta para tantas bocas. O sono já não é profundo, pois cantorias e jogos de baralho ocorrem por toda a noite. O chefe da família tenta reassumir o controle, mas o caos já está instalado.
O Estado brasileiro buscou ser a família cordial. As empresas estão em dificuldades? Por que não uma renúncia fiscal ou um dinheiro subsidiado do banco público? Os funcionários estão insatisfeitos? Aposentadorias prematuras e com valores integrais podem satisfazê-los. Os políticos, como monarcas, também querem privilégios: ajudas de custo, aposentadorias precoces, assessores. Tal como no exemplo acima, a casa se desestrutura. Já não consegue atender nem mesmo aos mais necessitados.
Essa casa desarrumada com incerteza fiscal e possibilidade de insolvência é a responsável pela manutenção de juros elevados apesar da profunda recessão dos últimos dois anos. O endividamento é positivo quando o retorno sobre ativos (ROA) de uma empresa consegue superar a taxa de juros. Nesse caso, as companhias conseguem aumentar sua lucratividade ao alocar os recursos dos empréstimos em ativos produtivos. Mas não é o que tem acontecido. Se pegarmos o ROA das empresas que compõem o Ibovespa, tomando por base os últimos doze meses finalizados em setembro de 2016, apenas Ambev (ABEV3) e Cetip (CTIP3) com 13,3%, CCR (CCRO3) com 11,8%, Engie Brasil (EGIE3), antiga Tractebel, com 10,9%, Lojas Renner (LREN3) com 10,6% e Smiles (SMLE3) com 19,2% apresentaram retorno de dois dígitos que rivalizam com os juros primários da economia.
Embora grandes empresas possam obter empréstimos a menor custo, saber que apenas seis companhias do universo do Ibovespa apresentaram retorno próximos à Selic é preocupante.
Os altos juros não prejudicam apenas as empresas pelo lado da captação de recursos, mas também a demanda por seus produtos. Consumidores com pesadas dívidas não possuem fôlego para consumir. Compras a prazo também se tornam proibitivas.
Outra barreira ao crescimento é a baixa taxa de investimentos. Inversões não serão necessárias por um bom tempo em decorrência da elevada capacidade ociosa das empresas, dos juros altos e da baixa demanda.
A crise também afeta o canal do câmbio, tornando-o mais volátil o que aquece a inflação e impede a queda mais célere dos juros.
Mas o que mais assusta é a incerteza política. O governo de Michel Temer busca aprovar propostas em linha com a responsabilidade fiscal. E parece possuir base parlamentar para obter sucesso. Contudo, a operação Lava-Jato continua a fazer estragos nos mais diversos partidos e não está descartada a hipótese de atingir a própria presidência, o que torna frágil qualquer prognóstico. Mas sejamos otimistas: as medidas serão aprovadas. Porém ainda não está claro qual governante assumirá em 2019 e qual diretriz econômica adotará. Essa incógnita é mais uma razão para os investidores postergarem os investimentos.
O Estado, a residência que a todos acolhia, virou a “casa da Mãe Joana”. Os brasileiros de hoje como os de outrora assistem bestializados a baderna que ocorre no interior de sua própria casa.
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Olá André:
A “Casa da Mãe Joana” só vai tomar jeito quando o funcionalismo público for tratado como um igual. Além de todas mazelas que temos, criamos deste os primóridios duas classes de brasileiros e, se continuar assim não há mais esperança, pacote, governante que dê jeito.
Enquanto um Juiz que é pego praticando atos ilegais, praticando corrupção com quadrilha montada e o seu castigo é a aposentadoria precoce com salário e mordominas integral e paritário com seu colega na ativa, como acontceu recentemente em Mato Grosso. Esse é apenas um exemplo. Quantos se locupletam do Governo acobertados por seu cargo?
Pra que um congresso desse tamanho num país pobre?
Porque sustentar um sistema politico falido a esse preço, um dois mais caros do mundo?
Cada vez que se vai à Brasilia se depara com novo anexo para “empolerar apaniguados”, é um absurdo, pois nada produzem e em nada contribuibuem para a riqueza da nação.
Esse tipo de custo é crescente e exponencial. Isso tem que parar.
Fico por aqui, mas é apenas uma singela contribuição a sua linha de manifestação.