Petrobras: suas ações continuarão subindo?

Um dos melhores investimentos nos últimos 12meses foi investir nas ações da Petrobras. Os papéis sem direto a voto tiveram apreciação de 115,5% no período. O presidente escolhido, Pedro Parente, com carreira bem-sucedida no setor privado trouxe de volta um discurso comprometido com a razoabilidade econômica. Nada muito sofisticado: apenas relembrou que despesas e investimentos têm que caber no orçamento. Essa máxima havia sido ignorada pelo governo anterior guiado por um voluntarismo pueril e por objetivos menos nobres.  A alteração da postura da administração foi fundamental para a sobrevivência da companhia que caminhava para um cenário de inviabilidade econômica. O desempenho da ação demonstra que os investidores reconheceram essa mudança. Mas o realizado até agora é suficiente para uma valorização sustentada das ações? As ações ficaram caras após o “rally”?

Muitos indicam a Operação Lava-Jato como a principal causa da derrocada dos resultados financeiros da Petrobras. O prejuízo com propinas é calculado em R$ 6 bilhões de reais. Embora esse esquema tenha drenado o caixa da empresa, a política de contenção dos preços dos derivados entre 2010 e 2014 foi muito mais danosa à empresa. Como a Petrobras importava o óleo a um valor superior ao vendido no mercado doméstico, estima-se que a perda gerada foi de R$60 bilhões no período, 10 vezes o escândalo com corrupção. A consequência dessa política e de investimentos desastrosos foi a elevação do endividamento a níveis preocupantes.

As primeiras medidas da nova administração foram reduzir os investimentos futuros, anunciar a venda de ativos não estratégicos e controlar custos e despesas. Embora a execução das medidas ainda seja embrionária, o mercado se antecipou fazendo com que o preço da ação tenha mais do que duplicado em um ano.

Contudo, duas métricas mostram como a petrolífera ainda apresenta uma situação preocupante. O endividamento líquido sobre a receita estava em 4 vezes em junho último. É a empresa mais alavancada entre nove analisadas. A segunda mais endividada é a Royal Dutch Shell com 3,1 vezes. A média desse grupo é cerca de metade do da companhia brasileira: 2,2 vezes. Em um ano, a queda da alavancagem foi imaterial de 4,1 vezes para 4 vezes.

A outra medida é a divisão das despesas administrativas pela receita. Em outras palavras, quanto da receita é destinada ao custeio das despesas gerais, administrativas e de vendas. Em junho, Petrobras possuía um dos maiores indicadores – 9,2% -, superada apenas pela Petrochina (não por coincidência outra estatal) e pela russa Gazprom. A média das nove companhias analisadas é bem inferior: 6,7%. O número da Petrobras chama ainda mais a atenção porque, nos últimos três anos, essas despesas tiveram uma queda nominal de 24,9%. A diretoria ainda terá muito trabalho.

A valorização das ações não tornou os papéis da Petrobras caras quando medidas pelo indicador FV/Ebitda 2016, onde o valor da firma (“firm value”, em inglês) é calculado somando-se o valor de mercado com a dívida líquida, enquanto o Ebitda é uma medida simplificada da geração de caixa projetada para 2016. Em 29 de outubro, as ações preferenciais negociavam a um múltiplo de 6,9 vezes ainda com desconto de cerca de 8% para o grupo das nove empresas observadas.

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Apesar de ainda depreciadas para as demais, os papéis de Petrobras devem perder força caso as medidas anunciadas pela administração não se confirmem. As ações não continuarão subindo apenas impulsionadas por discursos como se viu até agora. Houve uma expansão do múltiplo sem resultados concretos ainda. A administração precisa entregar o que prometeu – especialmente, a redução do endividamento – para que a ação continue a subir. Nesse caso, o valor de mercado pode se elevar ocupando o espaço antes ocupado pelo endividamento no numerador. Assim, o preço da ação pode subir mesmo com o múltiplo FV/Ebitda se mantendo intacto.

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6 Comentários

  1. Como investimento, e rendimentos em dividendos, diante do quadro internacional, e com a desvalorização do dólar, bem como a nova politica de preços, não se tem como prever maior valorização, mas temos que considerar Petrobras e os sentimentos do brasiliero e o slogan, “….é nosso” e isto é emocional e em negócios não é normal.

  2. Excelente análise do André Rocha, como sempre. Gostaria apenas de ressaltar um aspecto, às vezes esquecido.

    Conforme afirmado por ele, “A valorização das ações não tornou os papéis da Petrobras caras quando medidas pelo indicador FV/Ebitda 2016, onde o valor da firma (“firm value”, em inglês) é calculado somando-se o valor de mercado com a dívida líquida, enquanto o Ebitda é uma medida simplificada da geração de caixa projetada para 2016. Em 29 de outubro, as ações preferenciais negociavam a um múltiplo de 6,9 vezes ainda com desconto de cerca de 8% para o grupo das nove empresas observadas.”

    Entretanto, resta ver se esse desconto de 8% em relação ao múltiplo FV/Ebitda não se justifica frente à perspectiva de risco e retorno da Petrobras frente aos seus pares internacionais. Ou seja, dado o risco implícito na Petrobras devido ao tamanho de sua dívida líquida e também devido ao peso de sua despesa administrativa frente à receita auferida – conforme mencionado pelo autor -, o desconto pode até aumentar e não diminuir.

    Certamente, se a sua dívida líquida começar a cair (seja pela valorização do real, seja por pagamento antecipado gerado pelo processo de desinvestimento da companhia), o múltiplo FV/Ebitda começará a melhorar e esse desconto de 8% frente aos pares aumentará, tornando a ação mais “barata” relativamente.

    Porém, a questão a ser respondida é: vale o risco de comprar a ação, dentro da perspectiva de análise desse indicador (FV/Ebitida), conforme ressaltado pelo autor?

  3. Prezado André, excelente informação e análise, gostaria de adicionar a essa análise, a questão do fluxo dos investidores do exterior, como a Petrobras é altamente negociada, esse fluxo pode também impactar o preço, dado as melhorias nas condições do Brasil e o grande valor alocado em taxas de juros mundiais no campo negativo.

  4. A LAVA JATO não é a causa, mas antes, um efeito. Primeiro PT montou o esquema para saquear a Petrobras e deu no que todos sabem. Uma vez descoberto o esquema, foi montada a operação lava jato. Só falta jogar o laço sobre o pescoço do CHEFÃO DA MAFIA E DEIXA-LO APODRECER NA CADEIA. JUNTO COM SEUS CÚMPLICES, E É CLARO , A RECUPERAÇÃO DOS VALORES ROUBADOS.

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