Imagine um objeto de desejo, que representa status social e que se tornou vital nos dias atuais. O carro, diriam alguns. Não, pois esse vem sendo questionado em um mundo que preza a sustentabilidade e a mobilidade urbana. Falo do celular. O glamour do maço de cigarros nos bolsos e bolsas, hoje é personificado no aparelho móvel. O estoque de celulares já supera a população do país.
Contudo, as operadoras não estão comemorando. Estranho, né? A Oi recorreu recentemente à recuperação judicial com dívidas superiores a R$ 60 bilhões, a maior da história brasileira. A TIM patina. Essas empresas não conseguem aproveitar o cenário benéfico e, como reflexo, suas ações perdem espaço na bolsa brasileira. Por que isso ocorre?
Como analista, acompanhei o setor de telecomunicação entre 1996, portanto antes da privatização do sistema Telebras, e 2007. O peso do segmento no Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, era de cerca de 50%. Em 19 de julho, essa participação reduziu-se para 3% representado por Telefonica Brasil (VIVT4) com 2,345% e Tim Participações (TIMP3) com 0,663%.
As razões são várias. Faz-se necessário voltar a meados da década de 90. Na privatização, os ativos da Telebras foram cindidos em telefonia fixa e móvel e distribuídos em 12 holdings regionais: três de telefonia fixa, oito de telefonia móvel e uma de dados e longa distância. Além disso, o governo fomentou a criação de empresas espelhos para competir nos territórios de cada uma das holdings. Esse modelo foi subvertido pelo avanço tecnológico. As principais deficiências do modelo foram:
- Diversidade regional: a divisão por regiões não faz sentido tendo em vista a magnitude dos investimentos constantes impulsionados pela rápida obsolescência das tecnologias. Em um período de dez anos, a telefonia móvel foi da transmissão analógica ao 4G, por exemplo. Com isso, escala é fundamental para diluir o capital aplicado.
- Separação tecnológica: o tempo mostrou que a tecnologia era convergente. Uma empresa deve oferecer vários serviços: fixo, dados, móvel e TV por assinatura.
- O aparecimento de tecnologias concorrentes: novos serviços surgiram retirando tráfego das operadoras como o Skype e o WhatsApp tanto do serviço de voz como o de dados.
- O surgimento das redes sociais como Facebook e LinkedIn, bem como serviços de streaming como Netflix e Spotify, que sobrecarregam a rede das operadoras, gerando a necessidade de mais investimentos.
Além desses problemas, os acionistas minoritários ficaram sempre à mercê de eventos societários. A última operação da Oi com a Portugal Telecom é um exemplo.
A expansão geográfica e a convergência de serviços foram parcialmente superadas por intermédio da consolidação. O grupo Telemar incorporou a Brasil Telecom, dando origem à Oi e iniciou do zero seu serviço móvel. A Telefonica juntou suas operações fixas em São Paulo com a operadora móvel Vivo que, por sua vez, já havia adquirido a Telemig Celular e a Centro Oeste Celular. O grupo comprou ainda a empresa de TV a cabo TVA e a empresa de telefonia fixa e de dados GVT.
A mexicana America Movil consolidou suas operações móveis espalhadas pelo país, criando a Claro e adquiriu a Net de TV a cabo e as empresas de dados Embratel e Vesper. Contudo, essa movimentação não foi suficiente. O setor deve se consolidar ainda mais. O jogo ainda não acabou.
Meu antigo chefe, antes de me contratar na Unibanco Corretora, buscou referências sobre mim junto a alguns analistas concorrentes. Um deles, ainda acreditando no potencial do setor com base no passado, disse: “Ele é muito pessimista com o setor”.
É verdade. Desde 2005, deixei de acreditar no setor de telecomunicações como um investimento de longo prazo. Meus relatórios tinham recomendações apenas pontuais: algumas arbitragens entre papéis, por exemplo, entre ações da holding e as da operadora ou posicionamentos com o objetivo de se beneficiar de reestruturações.
Essa visão, infelizmente, não se alterou com o tempo e a trouxe para o blog “O Estrategista” retratado em um artigo de janeiro de 2013, intitulado “Esqueça o setor de Telecom como investimento de longo prazo”.
A Oi e a Tim continuam a me dar razão. A primeira está concordatária e a TIM patina vítima da convergência tecnológica e de um controlador, a Telecom Italia, com capacidade reduzida de investimentos e com instabilidade societária.
Caso queira estar exposto ao setor, a melhor opção é a Telefonica Brasil que conseguiu ter presença nacional com telefonia fixa, celular, dados e TV a cabo. A outra opção seria a Net e a Claro, mas suas ações não são negociadas na bolsa brasileira. Indiretamente, o investidor poderia comprar as ações da America Móvil, mas a operação brasileira é apenas uma parte da atuação da companhia na América Latina.
O resto serve apenas a investidores especulativos.
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Excelente reflexão André. O ponto que gostaria de aprofundar é: e o investimento em áreas que podem ser ocupadas para as instalações de equipamentos em telecomunicações, como antenas em terrenos no meio da cidade?
Tenho um terreno e busco esse contrato.
Podemos ainda considerar como um investimento?
Belo artigo.
Nao podemos deixar de citar o trabalho da Algar telecom que vem inovando muito e se mostrando uma opção diferenciada no mercado.
Excelente artigo.
Muito bom artigo!
Não podemos esquecer que além de tudo isso, o controle Estatal e o custo que impõem para inovações tecnológicas no setor é muito alto.
O Brasil é um dos únicos países praticamente proibidos de vender internet com franquia e as operadoras estão tão atoladas que não conseguem oferecer uma proposta decente de franquias.
Resumindo, custo estatal caro e Operadoras forçadas a fornecer conexão ilimitada até para uma senhorinha solteira que usa internet apenas para se comunicar com filhos pelo whatsapp. O setor não tem futuro.
Acredito que o compartilhamento de antenas poderia influenciar em um resultado positivo, vejo um gasto operacional muito alto com esse setor.
Ótimo post!