A leitura desse artigo exigirá sacrifício do leitor. Não porque ele traga algum desafio intelectual. Mas por exigir que você, leitor, relegue o noticiário político e econômico a um segundo plano por quatro minutos, tempo necessário para lê-lo.
Abordar temas técnicos durante a pior crise econômica da história republicana parece sem propósito, lunática até. Mas como Freddie Mercury da banda Queen lindamente cantava: “The show must go on”. O tema, que escolhi compartilhar com vocês, versa sobre os bancos médios na bolsa de valores.
Esses bancos (Sofisa, Daycoval, Pine, Indusval, BicBanco, Banco Pan, Paraná e ABC) foram assunto dessa coluna pelo menos duas vezes: “Qual o futuro das ações dos bancos médios?”, de novembro de 2011 e “Um setor à deriva na bolsa”, de julho de 2014. Pelos títulos pode se perceber meu pessimismo com o desempenho de tais ações. Assim, a reportagem do Valor Econômico “Em baixa, banco médio sai da bolsa” de 15 de março não me causou surpresa. Os textos pretéritos dessa coluna já indicavam a alternativa de cancelamento de registro desses bancos como companhia aberta. Trechos dos artigos. O de 2011: “Outra possibilidade seria o fechamento de capital com os controladores pagando um prêmio sobre a cotação de mercado”. E o de 2014: “Existe a alternativa de cancelar o registro em bolsa. Essa tática possui o inconveniente de tirar recursos do caixa da instituição. Por outro lado, reduz-se o custo de empresa aberta (taxas, publicidade, etc) e evita o olhar curioso da concorrência sobre suas atividades. O preço ofertado tenderia a ter um prêmio sobre a cotação atual de forma a incentivar os minoritários a entregarem suas ações”.
Dos oito bancos citados acima, quatro retiraram-se ou pretendem deixar a bolsa. BicBanco teve o controle acionário alterado e o novo proprietário fez oferta pela totalidade das ações dos minoritários. Já os controladores de Daycoval, Sofisa e Indusval decidiram recomprar as ações dos acionistas minoritários.
A tese de investimento utilizada pelos bancos de investimentos para vender essas ações mostrou-se falha. O argumento era o de que os bancos menores seriam mais ágeis na concessão de empréstimos, além de poderem atuar em nichos de mercado com baixa participação dos bancos de maior porte. Contudo, diversos eventos contribuíram para reduzir a atratividade dos bancos médios como (i) o custo de captação mais elevado do que o dos grandes bancos; (ii) a alteração da estratégia de Bradesco e Itaú Unibanco que passaram a competir em mercados antes exclusivos dos médios; (iii) as alterações regulatórias como a maior exigência de capital e a restrição da cessão de carteiras; (iv) a crise do “subprime” americano que elevou a desconfiança do investidor com a atividade bancária e, por fim, (v) as fraudes do Cruzeiro do Sul e do Banco Pan-americano que minaram a credibilidade sobre o balanço patrimonial dos bancos de menor porte.
Aqui cabe ainda um sorrateiro detalhe. O setor bancário é um dos poucos setores, cujas empresas são avaliadas pelo múltiplo P/VPA (preço por valor patrimonial). Quanto menor o indicador, em tese, mais barato estaria o papel. Pois bem, o que fizeram os bancos de investimento? Durante a abertura de capital desses bancos, os consultores mostravam o múltiplo após a captação, cujo patrimônio líquido já estava inchado pelo aporte feito pelos novos acionistas. Ou seja, o indicador se tornava menor, logo “atrativo”, não devido à competência do administrador, mas aos novos recursos pagos pelos próprios acionistas que aumentavam o denominador do índice. Assim, o desconto do múltiplo desses bancos em relação ao das grandes instituições financeiras privadas – Bradesco e Itaú Unibanco -se alargou ainda mais, dando a falsa impressão de que suas ações estavam baratas. Mas a atratividade da ação de um banco não se mede apenas pelo baixo múltiplo P/VPA, mas principalmente pelo retorno sobre o capital empregado. Os bancos médios, sem exceção, têm apresentado retornos bem inferiores ao dos grandes bancos. Logo qual a vantagem de possuir ações de bancos com baixo retorno de capital?
A consequência é o descaso dos investidores por essas ações, cuja liquidez dos papéis é mínima. Essa situação incentiva o administrador a retirar as ações da bolsa a fim de reduzir os custos. Além disso, ele não possui expectativa de captar novos recursos no mercado.
A decisão de cancelar o registro de companhia aberta se torna ainda mais interessante em momentos de crise econômica. A falta de perspectivas afugenta os investidores, depreciando a cotação. Controladores, por terem horizonte de investimento maior, aproveitam a oportunidade para elevarem sua participação a custos menores. Os administradores desses bancos acreditam que em breve um novo governo adotará um programa econômico racional que alimentará a confiança dos agentes, beneficiando o crescimento econômico. Essa aposta é sensata, pois dificilmente teremos uma chefe de governo e uma equipe econômica tão incompetentes como as que se alojaram no Palácio do Planalto desde 2011.
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Concordo em parte com sua apresentação; mas tenho convicção e afirmo sem medo de errar que o fracasso dos Bancos Médios e Pequenos se deu e se dá muito mais. quase que exclusivamente, pela soberba dos controladores e pela incapacidade de seus gestores em serem realmente profissionais e possuírem autonomia na gestão e não julgarem que os recursos captados nos IPO, sejam “deles” e não da instituição.
A maioria dos controladores das pequenas e medias instituições não reinvestem seus bônus na instituição mas em seus “investimentos pessoais”.
Quando na falta de recursos, boa parte vai ao mercado e não olham o investimento de recursos próprios, salvaguardando o patrimônio familiar.
A falta de transparência e de Governança Corporativa, isenção e não interferência dos controladores sobre os gestores profissionais é, sem dúvida alguma em minha opinião; o principal fator do fracasso do sistema.
Consciência Corporativa, e firme atuação dos Conselhos de Administração e Fiscais bem como obediência as regras dos órgãos supervisores (BACEN, CVM, SUSEP …) e gestão profissional isenta da influencia dos “controladores – familiares”; teriam sim mudado este e esse cenário.
Roberto
Pelo menos agora no fechamento de capital, os recursos dos donos estão sendo usados para aumentar sua participação no negócio.
Abraço, André Rocha
E o Banrisul? Quais as perspectivas?
Pais de 8 milhoes de km2, mais de 200 milhoes de habitantes, o mais diversificado regionalismo economico e cultura, nosso autor custou achar 8 bancos medios para dar sustentação ao artigo,
como empreender negocios numa porcaria dessa..
O artigo tratou apenas dos bancos com ações em bolsa. Há outros de capital fechado.
Santa ignorância! Antes de sair despejando tanta baboseira, o cidadão poderia se informar um pouco mais! Você leu o artigo com atenção?
Sempre dá para piorar !
Muito interessante o artigo, e com base na minha experiência bancária, posso afirmar sem sombra de dúvidas que as regulamentações de Basileia, da forma como foram implantadas pelo Banco Central aqui, tiveram efeito perverso sobre a concorrência dos bancos médios, além da própria morosidade do Bacen em criar mecanismos para incentivar a concorrência. Assistimos, nos últimos 10 ou 15 anos, a mais efeitos de concentração do que de abertura de novos bancos.
Quem sabe com a nova Basileia (3 ou posterior), que exige mais capital dos bancos maiores, aliado ao crescente desenvolvimento tecnológico, de mais fácil adaptação pelos bancos enxutos, esse cenário possa ser revertido, com bancos menores voltando ao mercado e também a bolsa.
A decisão de fechar o capital ou diminuir as ações em circulação é uma ótima situação. Banqueiros, espertos como são, compram com preço deprimido, as guardam por um período e depois a vendem no mercado por um preço maior, embolsando um belo lucro.
André e colegas; em continuidade ao resumo de minha explanação acima (ontem); na verdade quis “cutucar” a necessidade das Instituições ( abertas ou Lda) possuírem realmente (realmente e de verdade – redundante mesmo) Governança Corporativa e Compliance com respeito aos comitês (riscos, credito, Lavagem de dinheiro, controles internos, gestão de RH, Controladoria e Finanças Gerenciais, etc.); equipes qualificadas, operantes e com poder de apresentação e discussão junto às ” Presidência, Vices, Diretores, Conselhos de Administração e Fiscais (quando houver essa hierarquia) ” ; ou seja profissionalismo técnico e puro, sem canetadas dos controladores.
Esteja certo que se isso acontecesse essas Instituições pequenas ou médias, abertas ou fechadas, ate mesmo as médias com semi-controle estrangeiro; não estariam passando pela atual situação de aperto, mesmo com a crise atual.
Forte abraço
Roberto Capalbo
Os Bancos pequenos e médios tendem a desaparecer, pelo que foi exposto, pois não tem rede de agências, pequeno público, taxas altas em função do custo de captação, concorrência desleal se compararmos aos grandes bancos, baixa tecnologia e o mercado que hoje exige mais preparo técnico na liberação de operações em virtude da atual crise econômica que assola o país, exigência esta que infelizmente falta a estes bancos, pois quando há um pedido de Recuperação Judicial, poderemos verificar que sempre há concentração de alguma banco médio naquele risco.
Caro André,
O problema NÃO está na gestão dos bancos pequenos ou médios, mas sim na orquestração dos
5 maiores bancos, que atuam no ATACADO / VAREJO / BI / PRIVATE / M&A / SEGURADORAS / CARTÃO DE CRÉDITO / etc.., e, quando o negócio ( operação for boa ), entram para “quebrar”, mesmo que seja para perder dinheiro, pois o LUCRO na outras pontas são enormes,
mais importante é “MATAR” concorrentes, sufocar os pequenos e médios bancos …, com a legância
de um Lord inglês ” foi uma questão de Market Share !!! ”
Veja reportagem de HOJE:
Bancos lideram lucros entre empresas na Bolsa em 2015, aponta consultoriaComente
Do UOL, em São Paulo
08/04/201616h40
Em meio a um cenário de crise, em que o lucro das empresas com ações na Bolsa de Valores brasileira teve queda de 87,2% em 2015, o setor bancário se destacou no ano passado pelos resultados positivos.
Entre as 15 empresas com maiores lucros, sete são do setor financeiro, segundo levantamento da consultoria Economatica.
Juntas, as 25 instituições do setor bancário tiveram lucro de R$ 70,52 bilhões em 2015, alta de 28% ante os R$ 54,94 bilhões de 2014. O Itaú Unibanco ficou em primeiro lugar na lista, com resultado de R$ 23,36 bilhões.
Você que gosta de fazer cruzamento de informações, pegue a média dos EBITDA de todas as Empresas da bolsa; excetuando, os bancos, e, Você se surpreenderá, pensará que nossa Indústria – Comércio – Serviços, pertencem ao 5º mundo !!!
André, só para fechar, QUANDO os TOP 5 ( bancos brasileiros ), com 85% de concentração
( CADE ?!!! ), tiverem algum problema, chamam o MALAN e criam outro PROER, mas para o
CAPITAL PRODUTIVO ( Indústria – Comércio – Serviços ), oferecem o seguinte conselho:
SEJAM PRODUTIVOS, que é exatamente o que Você está sugerindo com palavras mais elaboradas.
Você sabia que das quase 7 milhões de empresas brasileiras, 51% estão no SERASA ?
CRÉDITO FOI PRATICAMENTE CORTADO ? GARANTIAS FORAM AUMENTADAS ABSURDAMENTE ?
Juros estão na lua, impossíveis de serem repassados nas MARGENS ?
RECUPERAÇÃO JUDICIAL E FALÊNCIAS cresceram assustadoramente no 1º trimestre de 2016 ?
André, mais uma vez, desculpe pela franqueza, há 40 anos ouço a mesma história, o Sistema Financeiro tem que estar FORTALECIDO, para fazer frente às CRISES internacionais !!!
Bancos pequenos – médios – grandes, estão a anos luz da REALIDADE DAS ANGÚSTIAS do dia a dia de 98% das Empresas brasileiras, detalhe: com DILMA, sem DILMA, com MANDATO TAMPÃO,
com NOVAS ELEIÇÕES, com INFLAÇÃO, sem INFLAÇÃO, com ou sem SELO das Empresas Rating,
uns mais outros menos, mas TODOS os bancos brasileiros estão MUITO BEM, OBRIGADO !
Excelente!
André; só de ter o Edmar e o Jose Oliboni, apresentando seus pontos de vista; incontestavelmente práticos e existenciais na história dos pequenos e médios Bancos no Brasil; já valeu a reportagem, a discussão e a apresentação sob ponto de vista do dia a dias dessas Instituições. demonstra sim (muito mais que meus argumentos técnicos e internos apresentados) a profunda e triste realidade dos pequenos e médios.
Como é bom ouvir (ler) o Edmar e Oliboni se manifestarem num debate aberto.
Valeria ate uma mesa redonda sobre o assunto, envolvendo ABBC e a Comissão dos Pequenos e Médios da FEBRABAN…iria pegar fogo!
Forte abraço a todos. e desculpe-me a simploriedade de minhas apresentações e argumentos.
Roberto J P Capalbo
Sou novo por aqui e principalmente no mundo dos investimentos, onde por enquanto só me arrisco na renda fixa. Tenho lido ultimamente o livro do Anderson Lueders, “Investindo em Small Caps”, que aborda muitos dos indicadores utilizados para quem analisa ações (no caso dele, Small Caps). No entanto, minha dúvida que deixo para vocês aqui não é propriamente com relação a investimento.
Abri conta no Banco Intermedium através do chamariz das LCI a 96% da CDI. No entanto, esse banco tem me surpreendido no bom atendimento, além de dar as vantagens de uma conta digital (principalmente TED ilimitado). Tenho sido mal atendido nos bancos grandes (tenho conta no BB e Banrisul) e a não ser que a pessoa desembolse 30 reais por mês tem acesso a poucos serviços.
Dada a introdução, gostaria de perguntar a vocês se seria arriscado transferir minha “vida bancária” (recebimento de salário, pagamentos, movimentações, saques etc.) para um banco considerado médio? Não pretendo me desfazer das demais contas, apenas das tarifas que elas me cobram sem que me ofereçam nada de mais. Tenho acompanhado os relatórios do Intermedium e por enquanto mostra alguma estabilidade (Basileia, lucros etc.), no entanto sua ligação com o setor de construção (MRV) e a possibilidade da inadimplência subir bastante nos próximos meses me preocupa.
Se puderem comentar essa situação de um modo mais abrangente, assim os agradeço.