Fuja dos golpes financeiros

Quem não quer uma aplicação financeira com alta rentabilidade, baixo risco e liquidez? Esse é o desejo de qualquer investidor. Mas oportunidades assim geralmente escondem armadilhas. Logo, o leitor deve ficar atento. Quais foram as maiores fraudes financeiras da história? Quais cuidados devem ser tomados?

No livro “Golpes Bilionários – Como os maiores golpistas da história enganaram tanta gente por tanto tempo”, o finlandês Kari Nars elenca dez trapaças financeiras de grandes proporções, começando com a bolha da South Sea Company no século XVIII e terminando com o caso Madoff em 2008. Os tipos de fraudes variam desde escândalos corporativos como o da própria South Sea Company, o da companhia elétrica Enron e o da líder mundial em fósforos na década de 30 Swedish Match Company (STAB) a esquemas financeiros sustentados por pirâmides como o do pioneiro Carlos Ponzi, o do fundo de investimento International Overseas Service (IOS) de Bernard Cornfeld, o do clube de investimento finlândes WinCapita e o da empresa Bernard L. Madoff Investment Securities.

O livro ainda conta casos bizarros como o da venda de terras em um país fictício na América Central em 1820 e a tentativa de venda da Torre Eiffel por um golpista que se passava por representante do governo francês a negociantes de ferro-velho.

As fraudes corporativas têm como características realçar os aspectos positivos e mitigar os riscos. Assim, receitas são infladas, dívidas, camufladas e despesas, reduzidas. A Enron se utilizou de firmas offshore para escamotear prejuízos. No caso da South Sea Company, a administração alardeava contratos de monopólio com as colônias espanholas na América do Sul, embora efetivamente apenas um navio britânico de porte médio poderia fazer o comércio com México, Chile e Peru uma vez ao ano. A STAB falsificou um título do governo italiano para fazer parte do seu ativo, cujo valor hoje corresponderia a 1,3 bilhão de libras.

Essas fraudes, em geral, buscavam apenas uma coisa: inflar o preço das ações, fazendo com que parte dos administradores conseguisse vender seus papéis a preços cada vez maiores.

O Center for Financial Research & Analysis (CFRA) listou sete estratégias usadas por fraudadores corporativos: (i) registrar lucros prematuramente ou de qualidade questionável; (ii) registrar lucros falsos; (iii) reforçar a receita com ganhos obtidos em uma única operação; (iv) transferir despesas atuais para um período anterior ou futuro; (v) deixar de registrar ou reduzir impropriamente passivos financeiros; (vi) transferir receita atual para um período futuro e (vii) transferir despesas futuras para o período atual como um custo especial.

Já as fraudes relacionadas ao esquema de pirâmides têm outros atributos. O golpista alardeia que possui o conhecimento de uma operação financeira complexa, o que acaba por dar credibilidade. Carlo Ponzi, por exemplo, dizia que realizava operações de arbitragem com cupom-resposta, valendo-se do diferencial de câmbio entre os Estados Unidos e a Itália. Mas essas operações são apenas fachada, pois o dinheiro arrecadado não é aplicado em qualquer ativo. Logo o investimento não possui qualquer lastro. O dinheiro dos novos aplicadores serve para pagar o resgate dos investidores anteriores. O esquema se sustenta, porque a rentabilidade atrativa mantém os investidores, reduzindo o número de resgates. Mas, em situações de restrição de liquidez, como ocorreu durante a quebra do banco Lehman Brothers, o esquema entra em colapso, pois os pedidos de resgate superam as entradas, o que causou a quebra do fundo de Bernard Madoff e do clube de investimento WinCapita.

O livro pouco menciona o Brasil. Contudo, aparecem duas curiosidades. Após ter seu esquema descoberto, Carlo Ponzi foi contratado por uma companhia aérea que fazia o trajeto entre Brasil e Itália. Assim, ele veio morar no Rio de Janeiro onde acabou falecendo em janeiro de 1949 após ter sofrido um derrame. A segunda curiosidade é que entre os bens pertencentes a Bernard Madoff havia um jato particular da brasileira Embraer, avaliado em US$ 24 milhões.

Como se defender desses trambiqueiros? Em primeiro lugar, desconfie de investimentos que apresentem rentabilidade muito superior ao índice de referência e com baixa volatilidade por um longo tempo. Cheque quais mecanismos de investimento são utilizados e se outras instituições o utilizam. Segundo, os golpistas, em regra, exigem pressa do investidor para evitar que seus dados sejam verificados. Terceiro, informe-se sobre os antecedentes do dono da empresa. Quarto, pergunte em qual instituição os ativos estão custodiados. Como diz Nars no fim do livro: “Se parece bom demais para ser verdade, provavelmente é bom demais para ser verdade”.

 

5 Comentários

  1. O de sempre e o que se dirá sobre as famosas PPP Plataformas de operações que prometem altíssima rentabilidade e o pior que divulga este tipo de operação não tem a menor preocupação em ser importunados pelas autoridades de fiscalização monetária, até mesmo porque não a regulamentação alguma nesta área no Brasil.

  2. Prezado André
    Boa tarde.

    Primeiramente, parabéns pelos textos publicados no site.
    Eu gostaria de saber se o senhor conhece e, em caso positivo, indica o livro “Análise de demonstrações financeiras e security valution”, do autor Stephen Penman, para quem deseja entender melhor as demonstrações financeiras publicadas pelas empresas.
    Obrigado.

  3. Parabéns! Precisa-se de mais matérias como a sua para que as pessoas parem de acreditar em papai noel e coelhinho da páscoa. Além do mais, normalmente as vítimas destes golpes são gananciosos tanto quanto os golpistas. Tudo que é fora da normalidade cheira a podre. Quem descobriu algo muito rentável, com toda a certeza, guarda para si a sete chaves. Na minha terra (RS) tem um ditado que diz: quem tem dinheiro e hemorroidas não conta a ninguém.

Comments are closed.