Nos últimos anos, boa parte dos gestores tem selecionado ações de empresas que apresentam potencial de valorização medido pelo preço-alvo mais modesto do que o de outros papéis. Mais do que criticar esses profissionais, é preciso entender as razões dessa decisão.
Quem já leu algum relatório produzido por corretoras deve ter se deparado com o preço-alvo da ação. O blog O Estrategista já fez anteriormente alguns artigos sobre o tema mostrando as vantagens e desvantagens de utilizá-lo. “Pode-se confiar no preço-alvo ou Benjamin Graham estava errado?”, de 9 de julho de 2012; “Ainda a polêmica sobre o preço alvo”, de 17 de julho de 2012 e “Não existe um preço-alvo único e imutável”, de 13 de fevereiro de 2014 estão entre eles.
Com o arrefecimento da economia mundial e a depreciação dos preços das commodities, analistas e gestores têm privilegiado ações de empresas com atividades voltadas para o mercado interno, histórico consistente de resultados e com rentabilidades sobre o patrimônio elevadas. Contudo, essa abordagem acaba por selecionar papéis de múltiplos elevados e com pequeno potencial de valorização com base no preço-alvo. Por que isso tem ocorrido?
Fiz uma simulação com base em duas empresas hipotéticas do mesmo ramo de atuação e com portes, estrutura de capital e projeções de fluxo de caixa semelhantes. A empresa “A” tem apresentado resultados consistentes nos últimos anos, enquanto a companhia “B”, depois de atravessar momentos difíceis, parece entrar em um ciclo positivo. Devido ao histórico, a ação da empresa “A” negocia a um múltiplo P/L (preço por lucro) mais elevado. Em outras palavras, o valor de mercado de “A” comparativamente ao seu lucro projetado é maior do que o verificado na empresa “B”.
Como sabido, o preço-alvo geralmente é calculado com base na metodologia do fluxo de caixa descontado no qual a geração de caixa futura é trazida a valor presente a uma determinada taxa de desconto. Se for utilizada a mesma taxa de desconto para as duas empresas, a companhia “B” apresentará um potencial de valorização (a diferença entre o valor justo e o valor de mercado) bem maior do que o da empresa “A”. Com base na simulação feita, enquanto a empresa “B” tem potencial de ganho de 46,5%, a companhia “A” indica possível valorização de 20%.
Com base exclusivamente no preço-alvo, a escolha da empresa “B” parece óbvia, mas onde residem as falhas? Primeiro, a projeção de resultados da empresa “A” merece maior credibilidade do que a da empresa “B” tendo em vista seu passado de sucesso. Uma possibilidade de ajuste é aplicar uma redução nas estimativas da empresa “B” ou adotar uma taxa de desconto maior. Segundo, caso calculemos a taxa interna de retorno dos dois fluxos adotando o valor de mercado das companhias como investimento inicial, percebemos que apesar de inferior ao da empresa “B”, a rentabilidade da empresa “A” é elevada, 16% versus 20% ao ano. Assim, será que não vale escolher a empresa “A” com resultados sólidos? A rentabilidade é inferior à da empresa “B”, mas mesmo assim ainda é bem atraente.
As ações baratas são preferíveis às ações caras. Essa regra é universal. Mas as observações acima mostram como o cálculo do preço-alvo não é trivial e que ele não pode ser o único balizador para a escolha de um papel.
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Entretanto, em caso de desânimo no mercado, de crises, de ajustes fiscais, etc. Essas ações com múltiplos elevados tendem a sofre bruscas quedas, mesmo que seus fundamentos permaneçam intactos, ao contrário das empresas que já estão descontadas. A HGTX3, por exemplo, perdeu mais 70% do seu valor de mercado desde nov/2012, mas seus fundamentos permanecem os mesmos e hoje poucos analistas têm coragem de recomendar a compra desse papel em função do cenário atual brasileiro. Eles preferem continuar recomendando as queridinhas que o mercado que ouvir.