Cemig: nova administração, menores dividendos? – Parte II

Segundo fontes, a nova administração da Cemig que irá assumir a partir de início de janeiro poderia reduzir os dividendos pagos pela companhia. No post de 1º de dezembro, analisei se uma possível alteração na política de dividendos afetaria o preço da ação. Nesse segundo artigo, comento sobre quais as consequências sobre os direitos dos minoritários caso haja redução do dividendo obrigatório.

A maior parte das empresas brasileiras apresenta um dividendo obrigatório de 25%, ou seja, na existência de resultado positivo no período, ¼ do lucro deve ser destinado aos acionistas. A Cemig, por força do artigo 28 parágrafo único aliena b de seu Estatuto Social, apresenta como dividendo obrigatório 50% do lucro líquido apurado. Contudo, nos últimos anos, o montante distribuído tem sido bem superior a 50%. Segundo meus cálculos, a empresa distribuiu 123,4% do lucro em 2011, 83% em 2012 e 110,4% em 2013 entre dividendos pagos com base nos resultados desses exercícios e dividendos extraordinários pagos sobre as reservas. Assim, a nova administração, para reduzir os dividendos distribuídos, bastaria limitá-los a 50% do lucro apurado.

Mas, vamos considerar, por hipótese, que a nova gestão queira reduzir o dividendo obrigatório para 25%, alterando o estatuto social, igualando-o ao da maioria das empresas brasileiras. O artigo 136 inciso III e o artigo 137 da lei das SA indicam que caso essa matéria seja aprovada, os acionistas poderiam retirar-se da companhia recebendo o valor patrimonial de suas ações a serem pagas pela própria empresa. Contudo, hoje, o preço da ação no mercado está 20% superior ao valor patrimonial por ação. Com isso, seria mais interessante ao acionista tanto votante quanto preferencialista vendê-las na bolsa do que entregá-las à companhia.

O governo de Minas Gerais, por possuir o controle da companhia, aprovaria com facilidade essa matéria. Além disso, esse evento não geraria qualquer desembolso de caixa da empresa, pois os acionistas prefeririam vender suas ações no mercado. Dessa forma, a nova administração da empresa a ser indicada pelo governo do PT poderia não só acabar com o pagamento dos dividendos extraordinários, mas também reduzir o dividendo obrigatório de 50% mediante modificação do estatuto social. Será esse o caminho? Difícil dizer, mas os dois artigos serviram para explicar os possíveis desdobramentos de uma alteração da política de dividendos da empresa, hipótese levantada por matéria do Valor Econômico de 24 de novembro.

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8 Comentários

  1. nao existe almço gratis no mercado financeiro. dividendos sai do preço da ação, nao se trata de um brinde! única vantagem é investir os dividendos pagos comprando novas ações. se a empresa distribui menos dividendos sua capacidade de investimentos aumenta e consequentemente seu lucro, no longo prazo aumenta. se aumenta seu lucro aumenta o preço da ação, pois o preço da ação sempre acompanha o lucro no longo prazo. portanto, para acionista que é sócio nada muda…

    1. Se os dividendos forem reduzidos e os lucros não distribuidos forem aplicados com a eficiência dos investimentos recentes da Petrobrás, já que a nova administração tem o selo do PT, no longo prazo o preço da ação cai com certeza.

  2. Segundo o Portal Fundamentus, o valor patrimonial da ação da Cemig , registrado no seu balanço de 30/09/2014, é de R$ 10,25 , próximo ao valor da sua cotação em bolsa de R$12,28 , em 16/12/2014 ; diferente do seu texto que menciona ser o valor de mercado da ação da Cemig três vezes seu valor patrimonial,ou seja, deveria estar cotada a R$ 30,75.
    Como a atual cotação de mercado da ação está próximo do valor patrimonial, seu artigo é muito oportuno, pois se a nova administração da Cemig reduzir o percentual do lucro a ser distribuído como dividendo, a ação da companhia ficará menos atrativa e poderá sofrer uma depreciação para um patamar abaixo do seu valor patrimonial , sendo então vantajoso para o acionista exercer seu direito de retirada pelo valor patrimonial.

    1. Obrigado Antonio, você está correto. O P/VPA é de 1,2 vezes. Já corrigi o texto.

      Peguei a informação do sistema S&P Capital IQ que desconsiderou os ativos intangíveis do valor do patrimonio líquido.

      Mas a conclusão do texto não se altera na minha visão, porque a ação ainda negocia acima do valor patrimonial.

      Caso a ação caia abaixo do valor patrimonial, gerando direito de recesso, não acredito que a nova administração alteraria o dividendo obrigatório. Ela preferiria não gastar os recursos de caixa da companhia com os minoritários.

      Abraço

      André Rocha

      1. André infelizmente eu conheço esta galera e eles não entendem nada de economia estragando tudo que vê pela ferente. Eles não entendem que tem bastante capital estrangeiro na empresa justamente pela politica de dividendo um exemplo a “BlackRock investiment e a brasileira AG”. Como eles vão mudar o trajeto de uma empresa solida, se realmente investisse este dinheiro blz, mas não vão investir, lembrando que esta empresa é uma das melhores que já vi em organização e agora não sei o que vai acontecer.

  3. Se a empresa é séria e seus administradores são qualificados (sabem analisar retorno de investimentos) e ainda assim distribui dividendos altos é porque já analisou opções e chegou a conclusão de que não consegue encontrar alternativas de investimento que atendam os requisitos de remuneração do capital que estipulou (ou deve ter sido estipulado por seu conselho de administração). Sendo assim, é melhor devolver o dinheiro ao acionista e deixar que o próprio faça suas escolhas. Deixar dinheiro sobrando no caixa da companhia dando sopa é uma tentação para fazer investimento ruim. Certamente, se alteração for feita, é bom ficar de olho, pois aumenta o risco da companhia.

  4. Tendo em vista que, no Brasil, é mais fácil e mais barato investir com dinheiro do BNDES, é preferível às empresas distribuir os lucros como dividendos e captar recursos junto a bancos públicos e de desenvolvimento.

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