O Teatro dos Vampiros, canção da Legião Urbana inserida no quinto álbum da banda brasiliense, possui os seguintes versos: “Vamos sair, mas não temos mais dinheiro / Os meus amigos todos estão procurando emprego / Voltamos a viver como há dez anos atrás / E a cada hora que passa / Envelhecemos dez semanas”. Segundo o jornalista Arthur Dapieve, Renato Russo compôs esses versos para retratar a situação vivenciada por seus amigos após a implantação do Plano Collor no início da década de 90. Embora o momento econômico atual seja superior ao daquela época, a sensação para quem milita no mercado acionário é a de que “voltamos a viver como há dez anos”. O que esperar para a bolsa no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff?
Após viver seu auge na década de 70, o mercado acionário brasileiro foi moribundo nas duas décadas seguintes com exceção de altas episódicas. Hiperinflação, moratória da dívida externa e altos juros praticados após o Plano Real não contribuíram para o desenvolvimento da bolsa. Contudo, a partir de 2004, o mercado acionário voltou a atender a sua principal função: servir de fonte de financiamento para as empresas. O marco inicial foi a abertura de capital da empresa de cosméticos Natura. Desde então, mais de cem companhias acessaram o mercado em busca de recursos para expandir suas atividades. Esse movimento atingiu seu ápice pouco antes da crise do subprime e ensaiou uma retomada a partir de 2010. Contudo, resultados econômicos pífios obtidos no primeiro mandato da presidenta têm prejudicado sobremaneira o mercado bursátil.
Cristiano Romero, em recente artigo no jornal Valor, inseriu uma tabela com o desempenho das principais variáveis macroeconômicas entre 2010 e 2014. O crescimento do PIB caiu de 7,5% para esperado 0,24% este ano. O investimento como percentual do PIB veio de 19,5% para 17,7%. A inflação, que já era alta no último ano do governo Lula (5,9%), avançou para 6,45%. O déficit público foi de 2,48% para 4,92% e o superávit primário, de 2,7% para 0,6%.
A relação com o exterior também mostrou deterioração com o déficit em transações correntes em relação ao PIB passando de 2,2% para 3,7% e a balança comercial saindo de um ganho de US$ 20 bilhões para um saldo negativo de US$ 1,9 bilhão. As dívidas fiscais líquida e bruta também cresceram. Com dados econômicos tão ruins não causa surpresa que apenas uma empresa tenha aberto o capital em 2014. Por isso, o sentimento de que “voltamos há viver como há dez anos”.
Com dados fiscais deteriorados e baixo crescimento econômico, a queda da bolsa já antecipa parte de um possível rebaixamento da nota soberana brasileira. Em recente evento promovido pela Lifetime Investimentos e citado em reportagem do Valor de 5 de novembro, Luiz Carlos Mendonça de Barros, sócio da Quest Investimentos e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), traçou três possíveis cenários para a política econômica no segundo mandato da presidente. No primeiro, haveria um choque de credibilidade com a escolha de um nome com ampla aceitação no mercado para o Ministério da Fazenda. A implantação de medidas para ajustar as contas públicas e debelar a inflação poderia, segundo Mendonça de Barros, “levar o índice Bovespa a 65 mil pontos”.
Como segunda alternativa, a política econômica permaneceria a mesma da adotada no primeiro mandato, com forte intervencionismo estatal e a utilização do gasto público e do crédito para alavancar o crescimento. Esse cenário reduziria ainda mais a confiança dos empresários, mantendo o investimento baixo e a inflação renitente.
Por fim, haveria a possibilidade de um cenário intermediário com a escolha de um nome sem amplo reconhecimento do mercado, mas com o compromisso de metas fiscais e monetárias austeras. Nesse caso, o mercado esperaria resultados consistentes para abandonar seu ceticismo sobre a economia brasileira.
No primeiro cenário, Mendonça de Barros cita a possibilidade da indicação do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e no último, a do ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.
O desempenho futuro do mercado acionário está dependente da política econômica a ser adotada. A continuidade das medidas tomadas no primeiro mandato pode levar ao rebaixamento da nota soberana do país e à deterioração ainda mais acentuada das variáveis macroeconômicas. Esse cenário tende a afetar negativamente um dos poucos indicadores ainda positivos na economia — o nível de emprego.
A insatisfação social gerada e uma base de sustentação frouxa no Congresso podem ser o bilhete de entrada para o “Teatro dos Vampiros”. Quem assistiu à peça no passado não guarda boas recordações.
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André,
A taxa de desemprego calculada pelo IBGE não retrata a realidade. O desemprego é muito maior do que 4,9%, como você sabe. Basta considerar os beneficiários do bolsa família na conta. Portanto, esse indicador é de no mínimo 25% se nós considerarmos como empregados literalmente aqueles que de fato tem um emprego. Portanto, esse indicador que você menciona ainda ser bom não existe. Só para inglês ver.
O Brasil não é um país para se investir em ações. O governo não propicia um ambiente de negócios saudável para o setor privado a prosperar.
Vc fala o que não sabe…um beneficiário do bolsa familia pode ter um emprego formal, porém para receber o programa a renda per capta da sua familia deve estar abaixo de R$77,00
Ou seja, um beneficiário pode procurar emprego normalmente e se conseguir, ótimo! O programa possui mecanismos de calcular sua renda com ou sem emprego formal ou informal.
Um dos males do Brasileiro é este, achar que seu palpite é a verdade absoluta.
Achar que o bolsa familia interfere para 25% na tx de desemprego é viajar demais maionese!
Concordo plenamente com o Fabio em “O Brasil não é um país para se investir em ações. O governo não propicia um ambiente de negócios saudável para o setor privado a prosperar”, lembro ainda da falta de incentivos tributários para este mercado, onde uma simples operação daytrade já leva 20% de IR!! Um absurdo visto a importância deste tipo de operação, que mantém liquidez ao mercado…
Quanto ao pais nao ser bom para investir em ações, nao sou professor e nao vou lhe dar conselhos, mas para mim, PF investindo na bolsa, tenho tido bons resultados, sendo moderado nas altas e nas baixas do mercado…cada um vê as situações como problemas ou oportunidades…
Nenhuma novidade…Paises ditos socialistas, estao no mesmo caminho do Brasil…Investir no Bovespa, quer dizer, investir no lucros das empresas listadas e este soh faz cair nos ultimos anos. No socialismo, as empresas sao veiculos sociais e nao para dar lucro aos seus acinonistas. A Bomba disso tudo eh que quem sustenta a sociedade de modo geral eh o setor produtivo e suas empresas…Nao valoriza-las e deixar que crescam e aparecam eh um tiro no peh. Um pais com tanta pobreza como o nosso, nao irah a lugar algum, se nao colocar os pobres a produzir alguma coisa eficientemente. Ou o nosso pais muda o atual governo, ou ficaremos nisso mesmo…O modelo petista nao funcionou em lugar nenhum do mundo e ainda nao funciona…O nome disse eh burrice!
Fábio acima infelizmente tem razão. A continuar mais do mesmo, o desemprego oficial rapidamente subirá a 10%, a inflação acima de 10% e finalmente teremos perdido os anos de FHC e retornado ao governo Sarney com fundamentos deteriorados, e a inflaçao de dois dígitos. Este papo de desemprego a 4,5% é para inglês e a turba verem…O país mais uma vez infelizmente voltou a ser o que sempre foi; medíocre e pouco desenvolvido. E o povo, ah o povo ignorante vai sofrer muito. É só aguardar…
a sensação é que além de ter caminhado 10 anos para trás continuamos voltando e voltando…. chego a pensar que o tesouro direto em prazos longos (vencimento acima de 2020) pode ser igualmente arriscado pois se é possível uma nova rodada de default em dívida externa por que nao default em dívida interna?