Com a crise de 2008, os principais Bancos Centrais correram para auxiliar os conglomerados financeiros por intermédio de linhas de crédito e outras ferramentas. Buscava-se evitar que a falência dessas instituições gerasse efeitos perversos sobre o sistema econômico. Criou-se até a expressão “grandes demais para quebrar”. O Brasil já havia passado por situação análoga na segunda metade da década de 90 quando bancos importantes como Nacional, Econômico e Bamerindus foram socorridos pelo PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) do governo federal. Mas toda moeda tem dois lados. E os bancos brasileiros menores listados em bolsa? Conseguiram se adaptar à nova realidade pós crise? Ou podemos cunhar uma nova expressão: “pequenos demais para sobreviver”?
O artigo “Bancos pequenos sofrem como nova regulamentação” do Wall Street, publicado na edição do Valor Econômico de 6 de abril, mostrou as dificuldades pelas quais passam os bancos norte americanos de pequeno porte para serem rentáveis. O aumento do custo administrativo para suportar as novas exigências regulatórias vem prejudicando seus resultados. Enquanto os grandes bancos apresentaram retorno médio sobre o patrimônio de 10,14% no último trimestre de 2013, os bancos pequenos entregaram apenas 5,43%. Além disso, 21% dos bancos pequenos tiveram prejuízo no 4º trimestre frente a apenas 0,9% dos bancos de maior porte.
O mesmo parece estar acontecendo no Brasil. O setor bancário, junto com o de construção civil, foi o que trouxe o maior número de novas companhias para a bolsa. Alguns bancos sofreram sérios problemas financeiros como Cruzeiro do Sul e PanAmericano. O primeiro já não tem mais suas ações negociadas em bolsa. Além do PanAmericano (BPNM4), ainda existem vários bancos médios de capital aberto: Banco ABC Brasil (ABCB4), Banco Pine (PINE4), Paraná Banco (PRBC4), Sofisa (SFSA4), Daycoval (DAYC4), Banco Industrial e Comercial – BIC (BICB4) e Indusval (IDVL4).
Mas suas ações estão largadas, com baixíssima liquidez. Do grupo acima, apenas ABCB4 negocia mais do que R$ 100 mil diários. A análise dessas ações pelas corretoras é precária ou inexistente.
O desempenho operacional também não tem sido animador. Com base no balanço de março de 2014, Itaú-Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil apresentaram retorno sobre o patrimônio de 21,0%, 18,1% e 25,1%, respectivamente. Por outro lado, o banco médio que mais se aproximou foi o ABC com 15%. Três tiveram prejuízo Banco PanAmericano, BIC e Indusval e três retorno ao redor de 10% (Pine, Paraná e Daycoval), enquanto Sofisa apresentou rentabilidade de 3%. Os bancos médios estão com dificuldades de atacar um nicho de mercado rentável, fugindo da competição dos grandes.
Como já expliquei em outros posts, o múltiplo P/VPA (cotação dividida pelo valor patrimonial por ação) guarda forte correlação com o retorno sobre o patrimônio líquido (“ROE”, na sigla em inglês). Quanto maior o ROE, maior o múltiplo e vice versa. A reta da regressão no gráfico abaixo indica que Itau-Unibanco, Bradesco e Santander (a esquerda da reta) estão caras dado o múltiplo a que negociam as ações vis-à-vis o respectivo ROE. Por outro lado, Sofisa e Daycoval estariam com preços justos tendo em vista o retorno apresentado (próximo à reta). Por fim, as demais estariam negociando com desconto excessivo em termos de múltiplo tendo em vista o retorno que apresentam. Elaborei o gráfico com dados do sistema de análise fundamentalista S&P Capital IQ.
Mas valeria a pena adquirir as ações situadas à direita da reta? Primeiramente, esses bancos precisam fazer um trabalho agressivo de comunicação para trazer de volta as ações ao radar dos investidores. Explicar sua estratégia para alavancar a rentabilidade. É o primeiro passo para aumentar a liquidez. Mesmo o Banco ABC precisa adotar essa estratégia. Posteriormente uma oferta secundária das ações dos controladores ou de minoritários relevantes poderia ser tentada para incrementar ainda mais o volume negociado.
Na última semana, o Banco Sofisa reduziu seu capital, considerando-o excessivo para suas atividades. É uma forma interessante de retornar recursos aos acionistas, mas não altera a situação de pouca liquidez das ações.
Existe a alternativa de cancelar o registro em bolsa. Essa tática possui o inconveniente de tirar recursos do caixa da instituição. Por outro lado, reduz-se o custo de empresa aberta (taxas, publicidade, etc) e evita o olhar curioso da concorrência sobre suas atividades. O preço ofertado tenderia a ter um prêmio sobre a cotação atual de forma a incentivar os minoritários a entregarem suas ações. Contudo investir nessas ações com apenas esse objetivo é arriscado.
O desconto de algumas ações apenas reflete a baixa liquidez, resultados decepcionantes (com exceção do Banco ABC) e a pouca comunicação com o mercado. Enquanto nada for feito, quase todo o setor bancário brasileiro vagará pela bolsa como os zumbis dos jogos eletrônicos atuais.
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Caro André, excelente artigo. Sugeriria vc ampliar esse gráfico para os ultimos 10 anos. Acho que na maioria das vezes o Banco do Brasil esteve a direita dessa reta. Talvez pelo custo “governo”.
Abraços
Excelente artigo!
Mas acredito que o principal problema quanto a estes bancos médios é o histórico de bancos pequenos no país. Na década de 90, todo ano ao menos um encerrava suas atividades.
Se for analisar a estrutura acionária veremos que pessoa física possui este medo, já que investidores internacionais estão bem posicionados nestes bancos além de fundos de investimento, – o que contribui para pouca liquidez, uma vez que estes pouco alteram sua posição nestas instituições.
Muito bom artigo!
André, parabéns e muito obrigado pelas informações.
Artigo excelente visão do momento parabéns .Eduardo Bertolli
Obrigado Eduardo.