As lições da Celeste aos investidores

Na última semana, a seleção uruguaia de futebol retornou ao Maracanã para uma partida de Copa do Mundo após 64 anos. O último jogo da equipe celeste no estádio carioca pelo mesmo torneio havia sido de glórias com o triunfo sobre a seleção brasileira na partida final. Antes desse jogo, acreditava-se na possibilidade de a história se repetir. O Uruguai jogaria com uma equipe de menor tradição no futebol. Enquanto o time do sul do continente possui 15 conquistas da Copa América, dois títulos mundiais e duas Olimpíadas, a Colômbia se contenta com uma única Copa América, ganha em 2001 quando o torneio se realizou em solo colombiano. Mas o enredo foi outro. As câmaras não registraram uruguaios comemorando, mas a festa dos “humildes” colombianos. Também nas aplicações, o investidor não pode se valer apenas do desempenho passado para a tomada de decisão. Um ativo que tenha sido vitorioso não significa que permanecerá sendo sempre a melhor opção ou que uma aplicação pouco rentável no passado deva ser para sempre descartada.

Neste mesmo espaço, em 5 de junho, Aquiles Mosca, executivo do Santander, citou estudo de Odean, Strahilevitz e Barber (2005) sobre a influência do desempenho passado dos ativos sobre a escolha presente dos investidores. Ao longo de 12 meses, os autores analisaram as ordens de compra e venda de 7 mil investidores. A conclusão do estudo foi a de que “os ativos que foram vendidos com ganhos no passado foram recomprados com uma frequência duas vezes superior aos de ativos que geraram perdas anteriormente”.

Os investidores preferem ficar longe dos ativos que lhe deram decepções. Mas aprendi com o tempo que não podemos guardar mágoa com as ações. O mesmo papel de uma empresa que lhe causou perdas pode lhe dar grandes alegrias em um momento posterior.
É comum o blog O Estrategista receber comentários de leitores profundamente decepcionados com o mercado acionário. Mas será que esse investidor estava preparado para aplicar em ações? Um exemplo frequente é o de pessoas que nunca haviam investido em ações e decidiram alocar seus recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) em fundos Petrobras. Essa estratégia de investimento apresenta um erro básico: concentrar sua aposta em apenas um papel, não diversificar, ter uma “carteira de ações” de apenas um ativo! Não me surpreende que o resultado não tenha sido vistoso. Outro exemplo é a aplicação em papéis de empresas pré-operacionais como a petrolífera OGX. Será que o investidor estava preparado para investir em uma ação que por natureza tendia a ser volátil?

Essa incursão negativa no mercado acionário tende a afastar definitivamente os investidores da aplicação em ações. Mas será essa a melhor estratégia?

Isso não vale apenas para a renda variável, mas para outras classes de ativos. Veja o que aconteceu com o desempenho dos títulos públicos do Tesouro Direto atrelados a inflação: as NTN-Bs. Após uma performance exuberante nos últimos anos enquanto os juros despencavam, o preço desses papéis desabaram quando o Banco Central adotou uma política monetária mais rígida. Boa parte dos investidores que aplicaram diretamente ou via fundos e desfez desses títulos no pior momento. Eles estavam devidamente informados sobre o risco e os benefícios dessa aplicação? Sabiam que se mantivessem os títulos até o vencimento receberiam a inflação do período mais os juros pactuados no ato da compra e não teriam perdas nominais? Provavelmente não e, por desinformação, nunca mais retornarão a esse tipo de aplicação que é uma das melhores opções existentes na indústria de investimentos brasileira.

É natural que, com quase 20 anos de carreira, já tenha cometido erros similares. Cobri por muitos anos o setor de telecomunicações. Ainda não havia ocorrido a consolidação do segmento e, por isso, havia 12 opções de investimento: oito na telefonia móvel e três na fixa. Eu possuía um índice grande de acerto nas recomendações das ações do grupo TIM (TIM Nordeste e TIM Sul), geralmente com indicações de compra, e das ações da Telesp Celular (atual Vivo), fazendo o oposto, recomendando venda. Contudo, não percebi alterações operacionais importantes como a troca de tecnologia do CDMA para o GSM e fui incapaz de alterar minha recomendação para a empresa paulista, privando os clientes de bons ganhos. Uma prova de que o presente não é um espelho do passado. As coisas mudam.

A informação e a educação são fundamentais para que nossas decisões de investimento não sejam pautadas apenas pelo passado. É necessário perceber nossos erros e acertos. A seleção brasileira não ficou remoendo a perda do título de 1950. Soube superar seus traumas e se preparar melhor. Desde então, o Brasil conquistou cinco títulos mundiais e venceu o mesmo Uruguai em partidas decisivas como na semifinal da Copa de 1970, nas eliminatórias para a Copa de 1994 e na final da Copa América de 1989, sendo as duas últimas no mesmo Maracanã, palco da decepção de 1950. Prova de que o fracasso (ou o sucesso) não se eterniza.

2 Comentários

  1. Petrobrás é o maior exemplo de que rentabilidade passada não é garantia no futuro. Enraizou na cultura em quem pretende investir no mercado de ações em começar na petrobrás por ser uma empresa sólida que já garantiu boa rentabilidade quem detinha ações, no entanto, nos últimos anos está longe de apresentar metade da valorização que já ocorreu e hoje possui um risco político muito maior que no passado, além do cenário externo ser desfavorável para Ibovespa, existe pessoas que compraram o ativo 30~40 reais em 2009 mas ainda detém com um otimismo que essas ações reverterá o prejuízo, até mesmo gerando lucros tudo devido ao passado. Sendo que é muito mais proveitoso em termos de risco em fechar a posição nesse ativo e utilizar para comprar outros.

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