As ações preferidas dos gestores de valor

Foi realizado na última quinta feira, o 7º Congresso Value Investing, evento que reuniu gestores de ações com enfoque na análise fundamentalista. Em dois painéis, os gestores indicaram as ações que eles acreditam ter maior expectativa de retorno no médio prazo. Um dos gestores fez recomendações que fogem do senso comum dos últimos anos.

Na sua apresentação, Fabio Alperowitch, fundador da FAMA Investimentos, defendeu a tese de investimento da varejista gaúcha Grazziotin (CGRA3). A FAMA é reconhecida pela seleção de ações de empresas de baixa capitalização (“small caps”). É o caso da Grazziotin, cujo volume médio diário negociado na bolsa gira em torno de R$ 100 mil. A empresa vem apresentando crescimento consistente do lucro líquido nos últimos quatro anos (incremento médio anual de 13% a.a.) e estabilidade das margens. A FAMA acredita que alguns ativos de propriedade da companhia não vêm sendo avaliados corretamente como o Centro Shopping em Porto Alegre, os 50% de participação na Grato Agropecuária, uma área de reflorestamento e a Grazziotin Financeira. Em decorrência da liquidez diminuta e da baixa cobertura pelos analistas, as ações da Grazziotin negociam, com base no múltiplo preço por lucro de 2014 (P/L), com grande desconto para a média das demais varejistas brasileiras : 7,1 vezes versus 22,6 vezes.

Nos dois painéis “Investments picks – melhores investimentos no momento”, Andre Gordon, da GTI Administração de Recursos; Breno Guerbatin, da Studio Investimentos; Tomas de Mello e Souza, da Gávea Investimentos; Adriano Seabra, da Opus Gestão de Recursos; Pedro Diniz, da Impacto Investimentos de Belo Horizonte; Antenor Fernandes da STK Capital; Guilherme Vicente, da Mauá Sekular e Leonardo Messer, da Oceana Investimentos indicaram suas melhores opções. Gordon sugeriu as ações da locadora de carros Locamerica (LCAM3) e ações de empresas com parte da receita referenciada em dólares como a indústria de bens de capital Iochpe Maxion (MYPK3) e a de logística Wilson and Sons (WSON11). Guerbatin indicou ações da elétrica Equatorial (EQTL3), enquanto Mello e Souza, ações da fabricante de relógios Technos (TECN3). Seabra indicou as ações da varejista Guararapes (GUAR3) e as da Ser Educacional (SEER3). Diniz como Alperowitch indicou ações da Grazziotin. Já Fernandes está confiante com Cosan (CSAN3) e Kroton (KROT3), enquanto Vicente acredita nas ações da incorporadora PDG Realty (PDGR3). Todas essas casas escolheram ações de empresas com foco no mercado doméstico, a maioria delas de baixa capitalização, estratégia que foi vitoriosa nos últimos anos.

A voz discordante do grupo foi a de Leonardo Messer, da Oceana, que selecionou ações de empresas com alta capitalização e que vêm sendo desprezadas ultimamente: as cíclicas. Sua escolha recaiu sobre Itaú Unibanco (ITUB4) e Vale (VALE5). Um setor é caracterizado como cíclico quando seu resultado operacional é fortemente influenciado pelo ambiente macroeconômico. Na prosperidade, o resultado é impulsionado, mas, por outro lado, em recessões, a receita sofre. Em relação ao Itaú, Messer acredita que o mercado trabalha com um teto para o retorno sobre o patrimônio líquido dos bancos privados – Itaú e Bradesco – de 18% a 20% independentemente do cenário de juros. Essa crença tem limitado a valorização das ações. Ele considera essa visão errada, pois a rentabilidade dos bancos é dada pela taxa Selic mais um spread ao redor de 11 pontos percentuais. Logo como a Selic atual se encontra no patamar de 11%, a rentabilidade desses bancos pode ser superior a 20%. Além disso, Messer lembra que o Itaú é um conglomerado financeiro obtendo receitas de diversas fontes: tarifas, seguros, de investimentos e não apenas do crédito, área que tende a ser mais volátil.

Tendo a concordar com Messer em relação à escolha das empresas cíclicas de alta capitalização. À medida que tenhamos uma economia mundial mais normal com a recuperação da atividade econômica dos países centrais e a normalização da política monetária americana, as ações das empresas cíclicas tendem a se recuperar. As indicações de empresas de baixa capitalização voltadas ao mercado doméstico continuam tendo espaço na composição da carteira do investidor, mas continuar desprezando as empresas cíclicas – commodities e serviços financeiros – pode ser um erro. O fato de as ações dessas empresas terem ido mal nos últimos anos não significa que o destino delas seja sempre ter uma má performance.

Temos de Uso

As análises, opiniões, premissas, estimativas e projeções feitas neste blog são baseadas em julgamento do analista responsável e estão, portanto, sujeitas à modificação sem aviso prévio em decorrência de alterações nas condições de mercado. O analista de investimento responsável por este blog declara que as opiniões contidas neste espaço refletem exclusivamente suas opiniões pessoais sobre a companhia analisada ou fundos e foram realizadas de forma independente e autônoma. As opiniões contidas neste espaço podem não ser aplicáveis para todos os leitores devido aos diferentes objetivos de investimento e situação financeira específica. O autor não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizados por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Toda e qualquer decisão de investimento baseada nas opiniões aqui expostas é de exclusiva responsabilidade do investidor.

2 Comentários

  1. André,
    Mais um ótimo post.
    A propósito das cíclicas mencionadas, você saberia informar quais são os seus múltiplos atuais, bem como os dos respectivos setores?
    Grato,
    Elias

    1. Oi Elias

      VALE5 está negociando a 6,05 vezes P/L 2014 e ITUB4 a 9,76 vezes. Não sei se vale a pena calcular um múltiplo médio do setor bancário, pois os bancos médios vem negociando com grande desconto. Há garnde aversão por eles após a quebra de Panamericano e Cruzeiro do Sul. Os dados são do sistema de análise fundamentalista S&P Capital IQ.

      Abraço

      André Rocha

Comments are closed.