O patrimônio líquido, o valor de mercado e o valor justo

Ao receber alguns e-mails, percebo que certos leitores confundem os conceitos de patrimônio líquido, valor de mercado e valor justo. Quais as principais diferenças? Quando utilizá-los?

O patrimônio líquido é uma figura contábil. Representa a parcela dos acionistas após se deduzir do ativo, todos os passivos. Ele é constituído inicialmente pelo aporte inicial dos sócios e, posteriormente, vai se alterando com os lucros ou prejuízos incorridos pela companhia. Além do aporte inicial, podem ocorrer novos aumentos de capital ao longo do tempo o que também contribui para a elevação do patrimônio líquido. Importante dizer que o patrimônio líquido reflete o passado da companhia, não dando qualquer pista sobre o futuro da empresa.

Já o valor de mercado é como os investidores avaliam o patrimônio líquido atual da empresa. É calculado multiplicando-se o total de ações pela cotação atual de mercado. Com isso, o valor de mercado pode estar acima ou abaixo do patrimônio líquido. Ao contrário do que muitos pensam, as ações de uma empresa que estejam negociando abaixo do patrimônio líquido por ação não necessariamente estão baratas. Por quê? Existe forte correlação entre o múltiplo P/VPA (preço por valor patrimonial) e o retorno sobre o patrimônio líquido. Quanto maior a rentabilidade, maior tende a ser o múltiplo e vice versa. Além disso, o patrimônio líquido reflete os custos passados e quem diz que eles representam a realidade? Assim, uma análise apenas baseada no múltiplo P/VPA é errada.

Por fim, o valor justo ou preço alvo é calculado geralmente pelo método do fluxo de caixa descontado. O analista projeta o fluxo de caixa futuro da empresa e o traz a valor presente por uma determinada taxa de desconto. Ao contrário do patrimônio líquido que mostra o passado, o valor justo pretende avaliar a empresa com base nas perspectivas futuras. Assim, o valor justo pode estar acima ou abaixo tanto do valor de mercado quanto do patrimônio líquido.

Em uma oferta inicial de ações, o que o investidor deve ter como referência básica é o valor justo e não o valor patrimonial. Ele deve olhar as expectativas futuras e não o passado. Os resultados históricos são importantes para se constatar a consistência da empresa, mas o que fará a ação se valorizar são os resultados futuros.

Temos de Uso

As análises, opiniões, premissas, estimativas e projeções feitas neste blog são baseadas em julgamento do analista responsável e estão, portanto, sujeitas à modificação sem aviso prévio em decorrência de alterações nas condições de mercado. O analista de investimento responsável por este blog declara que as opiniões contidas neste espaço refletem exclusivamente suas opiniões pessoais sobre a companhia analisada ou fundos e foram realizadas de forma independente e autônoma. As opiniões contidas neste espaço podem não ser aplicáveis para todos os leitores devido aos diferentes objetivos de investimento e situação financeira específica. O autor não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizados por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Toda e qualquer decisão de investimento baseada nas opiniões aqui expostas é de exclusiva responsabilidade do investidor.

18 Comentários

  1. Prezado André
    Parabéns por mais um post esclarecedor.
    Minha dúvida se refere à contabilização do capital de terceiros no capital total das companhias.
    Abaixo, vou descrever um exemplo concreto e real.
    No Release do resultado do 1 trimestre de 2014, a Estácio divulgou uma dívida bruta de R$ 328.100.000 (trezentos e vinte oito milhões e cem mil reais), composta pelas seguintes rubricas:
    Empréstimos Bancários: R$ 280.000.000
    Compromissos a Pagar (Aquisições): R$ 40.000.000
    Parcelamento de Tributos: 8.000.000

    No sítio da empresa, consta que a capitalização total no fim do trimestre era de R$ 1.927.100, fruto da soma do Patrimônio Líquido (R$ 1.647.122) + os empréstimos bancários (280.000.000).
    Ou seja, ela não computou os compromissos a pagar nem os tributos parcelados como integrantes do capital de terceiros.
    Essas duas rubricas não deveriam ter sido consideradas na composição do capital investido?
    Se puder esclarecê-la, ficarei muito agradecido.

  2. Oi Herbert

    Quando se fala de capitalização, é usual se utilizar apenas a dívida onerosa: debêntures, empréstimos e financiamentos.

    Caso você queira ser mais conservador poderia colocar essas rubricas.

    Abraço

    André Rocha

  3. André, levando em consideração a forte correlação explicitada por ti, entre ROE e P/VPA, e se, para fins de uma análise numérica e rápida, eu dividisse o ROE pelo P/VPA?
    Assim, por exemplo, uma empresa com ROE de 15% e P/VPA igual a 1,0 teria o mesmo quociente de uma empresa com ROE de 35% e P/VPA igual a 2,33.
    O que pensa sobre este método simples de comparação entre empresas? Ele não tem o inconveniente de se fazer projeções que podem se revelar errôneas.
    Aguardo sua contribuição. Obrigado. Aproveitando a oportunidade: sou leitor assíduo de sua coluna no Valor.

    1. Oi Sidney
      Você está usando um modo simplificado que é válido. A um determinado nível de ROE, a empresa merece negociar a um nível de P/VPA.
      Contudo o múltiplo P/VPA deve ser utilizado mais para instituições financeiras cujos ativos são precificados pelo mercado.
      Em setores industriais, o múltiplo perde relevância, pois os ativos são contabilizados a custos históricos.
      Abraço
      André Rocha

  4. Boa noite André!

    Muito interessante o paralelo, obrigada!

    Aqui se fala em cotação em mercado de ações, IPO levando em conta valor justo. Gostaria de trazer esta temática para empresas que não são ofertadas na Bolsa, como determinar o valor de mercado? Ou onde se pesquisar para ter parâmetros?

    E depois, esta determinada taxa de desconto, pela lógica teria que ser no mínimo a selic anual, mas o que mais poderia já se considerar para compôr esta taxa?

    Gostaria muito de seu retorno, por gentileza.

    1. Silvia
      Em cias fechadas, o valor de mercado se confunde com o valor justo. Como não existem vendas de cias similares todo o tempo, em regra, se recorre ao método de fluxo de caixa para avaliar essas empresas.
      A Selic é uma variável válida para ser utilizada como taxa livre de risco na fórmula do CAPM. Contudo a taxa de desconto para os próximos anos pode ser inferior à Selic atual se o mercado estivar prevendo uma queda de juros. Em outras palavras, você pode usar diferentes taxas de desconto ao longo do período do fluxo.
      Abraço
      André Rocha

  5. André boa tarde!!!

    Antes de mais nada post nota 10!

    Uma duvida: Se o valor justo estiver acima do valor de mercado isso significa que o preço da ação esta sub-avalido? e que, dado que o preço justo esteja “correto”, o preço da ação deve subir para chegar no preço justo?

    Muito obrigado André!

    Isaac Chammah

    1. Oi Isaac
      Na teoria, seu raciocínio está correto. Mas se a ação atingirá ou não o valor justo dependerá de outras variáveis como fluxo financeiro, a oercepção dos agentes em relação à ação, etc.
      Abraço
      André Rocha

  6. André mais uma pergunta….

    Em relação a Divida Onerosa (empréstimos, financiamentos, debêntures, duplicatas descontadas, etc), podemos considerar que o valor de mercado é igual ao seu valor contábil?

    Se não o valor não for igual (acredito que não seja….) pode-se usar o valor contábil da Divida Onerosa como “proxy” do Valor de Mercado?
    Pergunto isso pois quando vou fazer o Valuation de uma empresa costumo a usar valor de mercado do patrimônio liquido (preço * quantidade) e uso a Divida Onerosa contábil para calcular o quanto % da empresa é financiada por capital prório e o quanto % é financiada por divida onerosa, assim utilizo esse dado para calculo do wacc (custo médio ponderado de capital)

    Mais uma vez agradeço a atenção!!!

    Abraço

    Isaac Chammah

    1. Oi Isaac

      O ideal era fazer a divida onerosa a valor de mercado, mas acho preciosismo. E não existe, na maioria das vezes, um mercado ativo de dívida, somente para poucas debêntures.

      Já para cálculo da proporção da estrutura de capital entre equity (capital próprio) e dívida, ao invés de usar o patrimônio líquido contabil como capital próprio, use o valor de mercado. O mais usual é pegar a cotação da classe mais líquida multiplicado pela base acionária total.

      Abraço

      André Rocha

  7. Olá André,

    Não entendi porque a avaliação P/VPA é errada. Você poderia detalhar melhor?

    Você mencionou:
    1) Existe forte correlação entre o múltiplo P/VPA (preço por valor patrimonial) e o retorno sobre o patrimônio líquido. Quanto maior a rentabilidade, maior tende a ser o múltiplo e vice versa.
    2) Além disso, o patrimônio líquido reflete os custos passados e quem diz que eles representam a realidade.

    Concordo com as duas afirmações, mas não entendi porque a análise seria errada. Se P/VPA for menor que 1 você está pagando menos do que o patrimônio líquido. Em teoria, é uma boa oportunidade, exceto se a empresa continuar apresentando resultados ruins e acumulando prejuízos e diminuindo seu PL nos próximos balanços.

    1. Andre

      Não é que seja errada, mas o múltiplo P/L não pode ser olhado isoladamente. Depende da consistência dos resultados, se o patrimônio líquido está atualizado …

      Abraço

      André Rocha

      Abraço

      André Rocha

  8. Prezados colegas, tenho uma dúvida e nem sei se este post é o ideal para falar dela, mas vamos lá:
    Tenho um empresa (ME) que tem um PL de 1 milhão de reais. Estou vendendo ela por 2 milhões. Como serei tributado e como deve-se dar o registro contábil?
    Grato pela ajuda.

Comments are closed.