Uma das perguntas que mais me fazem nos cursos sobre investimento em ações que ministro é se existe uma “regra de bolo” para se conseguir sucesso. Essa pergunta é complexa, pois depende de vários aspectos. Minha experiência mostrou que se pode ter sucesso com diferentes táticas. O mais importante é conhecer regras básicas para se evitar investimentos arriscados.
Quando surge a pergunta sobre a melhor estratégia de investimento em ações, gosto de citar um trecho do livro “O Investidor Inteligente” de Benjamin Graham: “A moral da história parece ser que qualquer abordagem promissora no mercado acionário passível de ser facilmente descrita e seguida por muitas pessoas é, em si mesma, simples e fácil demais para durar”. E ele termina citando o filósofo Baruch Spinoza: “Todas as coisas excelentes são tão difíceis quanto raras”.
Minha experiência profissional me ensinou que não existe uma regra única. Além de departamentos de análise em corretoras (o “sell side”), trabalhei por nove anos em gestoras (o “buy side”). As duas casas, nas quais trabalhei, tiveram sucesso adotando estratégias completamente distintas. O Maxima Access, da gestora Máxima Asset, foi o segundo fundo brasileiro de ações mais rentável entre 1998 e 2001, segundo a revista Exame. Sua estratégia era alocar cerca de 50% do fundo em empresas que poderiam passar por reestruturações. Ao invés de se aplicar nas “holdings” da extinta Telebrás, investia-se nas operadoras estaduais de telecomunicações (Telesc de Santa Catarina, Telest do Espírito Santo e outras). Na época, existiam mais de 100 empresas do setor de telecomunicações. A possível consolidação poderia gerar ganhos às ações das estaduais, pois essas negociavam com grandes descontos para as respectivas “holdings” (acredite havia empresas negociando a uma vez FV/Ebitda). Em 1999, a consolidação das 16 operadoras da Telemar (atual Oi), bem como a reestruturação das nove operadoras da Brasil Telecom em 2001 (também incorporada pela Telemar em meados da última década) trouxe excelente rentabilidade ao fundo. Outra fórmula de ganho foi apostar em empresas em vias de serem privatizadas como a concessionária paulista Comgás e a elétrica baiana Coelba. Em outras palavras, o fundo focava em eventos (reestruturações societárias, privatizações). A essa estratégia de investimentos dá-se o nome de “event driven”.
Já na BankBoston Asset Management, a atuação era distinta. Por ser uma gestora de um banco de varejo, os gestores se importavam com o desempenho dos dois principais índices de mercado: o Ibovespa e o IBrX. Um desempenho pior do que o dos índices poderia gerar resgates. Assim, as apostas nas ações eram calibradas tomando-se por referência o peso de cada papel no índice acionário. Era uma gestão mais cautelosa do que a feita na Máxima, mas, não por isso, menos vitoriosa. O Boston conseguiu ser eleito por três anos seguidos a melhor casa de gestão em renda variável pela Revista Exame (2002/03/04).
Há algumas “dicas” dadas por especialistas que não sobrevivem à realidade. Por exemplo, montar uma carteira defensiva em épocas de crise ou focar apenas em ações que pagam bons dividendos. Além disso, o investidor deve ter cuidado com operações de abertura de capital (IPO, em inglês), com as “growth stocks” e com as empresas da moda, por exemplo. Esses temas já foram tratados no blog e são reforçados em meus cursos e palestras.
Minha experiência mostrou que não há uma única estratégia para atuar na bolsa. Táticas completamente distintas podem funcionar. O importante é que o investidor conheça seu grau de aversão ao risco, o seu horizonte de tempo de investimento e a finalidade da sua aplicação (lazer, poupança para aposentadoria, compra de imóvel).
O brasileiro em geral sabe mais sobre a novela e sobre seu time de futebol do que sobre onde aplica seu dinheiro, com visão totalmente de curto prazo e foco apenas na rentabilidade…
Remando contra a maré, seus artigos tem sido bem esclarecedores em formas de analisar as empresas e seus investimentos, de forma a nos tornar conscientes em relação à gestão do nosso patrimônio. Obrigado!
Valeu, Rodrigo!
Este post é muito esclarecedor para quem pensa em começar a investir na bolsa. Obrigado André!
Obrigado, Gabriel.
Considero investimentos em ações com um negócio como outro qualquer. Procura-se comprar barato para vender mais caro. Nada mais é que uma “lojinha” comprando e vendendo empresas. Quando comecei a investir em ações, era um buy and holder e hoje sou um position trader. Sempre procuro empresas boas com bons fundamentos e jamais me aventuro em empresas “extraordinárias”. Alio os bons fundametos aos gráficos semanais para entrar e/ou sair em determinado ativo. Agindo dessa forma, como position, eliminei o desconforto de estar comprado em uma boa empresa com excelentes fundametos e ver seu preço cair como ocorreu com VALE no ano passado. É inegável o potencial de VALE, mas ver seu preço cair 25% no ano passado e não fazer nada, é realmente desconfortante. Daí, passei a utilizar os gráficos semanais como ferramenta, e devido a seu baixíssimo nível de stress, venho conseguindo excelentes resultados. Você está muito certo quando dizr que não existe uma única estratégia na bolsa, mas pelo menos uma você tem que ter e seguí-la a risca, aliada a um bom controle de risco. Fazendo dessa forma, ganhar dinheiro na bolsa torna-se mais fácil, porém exige um grau de disciplina altíssimo e isso a maior parte das pessoas não possuem. Parabéns pelos seus artigos, são esclarecedores.
Obrigado, Alex.
É o que falo com o pessoal: apesar de lidarmos com dinheiro e investimentos (que é, de certo modo, objetivo) não existe fórmula pronta. O que pode ser bom para mim, pode ser pouco ou demais para outros.
O mais importante, como ressaltado, é alinhar seu horizonte de investimentos com o horizonte de maturação da aplicação, alinhado aos objetivos, dentro daquilo que se tolera de risco. E tudo isso começa e continua pela educação financeira.
Muito bacana André! Parabéns!