Na última semana, o mercado reagiu negativamente à decisão do Conselho de Administração da Petrobras de não divulgar a fórmula automática de reajuste do preço dos combustíveis. As ações preferenciais PETR4 caíram 9,2% na última segunda, 2 de dezembro. Mas, afinal, ocorreu algum fato novo que justificasse comportamento tão negativo dos investidores? Reiteradamente, analistas e investidores esquecem o propósito da capitalização de 2010, bem como suas consequências contábeis e o fato de a petroleira ter como controlador a União Federal.
Em 2010, a Petrobras fez a maior operação do mercado de capitais brasileiro. Contudo, aspectos relacionados à capitalização parecem escapar a alguns analistas, a gestores e à imprensa. A entrada de recursos no caixa da companhia em 2010 gerou como contrapartida um incremento do patrimônio líquido no mesmo montante. O dinheiro foi captado para investimentos na região do pré-sal. Contudo, sua produção iniciou-se somente em 2013, mesmo assim de forma tímida. Assim, a capitalização não trouxe receitas no curto prazo. O resultado foi uma queda abrupta do retorno sobre o patrimônio líquido (lucro líquido dividido pelo patrimônio líquido) de 21,5% em 2009 para 7,2% nos doze meses encerrados em setembro de 2013. Embora o lucro líquido tenha caído no período, a queda da rentabilidade foi derivada especialmente do aumento do denominador, o patrimônio líquido. Assim, questionar a queda da rentabilidade da Petrobras após a capitalização é não ter entendido o mecanismo contábil da oferta de ações e a destinação que foi dada aos recursos. Por outro lado, a produção do pré-sal deve aumentar a partir de 2014 o que trará impactos positivos sobre a rentabilidade. Logo, a crítica à queda da rentabilidade deveria ter sido feita em 2010 e não agora quando a empresa está perto de entregar maiores retornos.
Outra discussão é a crítica de que a Petrobras tem sido utilizada para controle da inflação pelo governo. Mas em algum momento foi diferente na administração do PT (Partido dos Trabalhadores)? Além disso, embora não concorde, a utilização de empresas estatais com fins de utilidade pública tem respaldo em decisões do próprio Judiciário como mostrei no post “Os riscos de investir em ações de estatais”, de 3 de junho de 2013.Veja trecho do voto do ministro do Superior Tribunal de Justiça que relatou o processo de um minoritário da Petroquisa, subsidiária do setor petroquímico da Petrobras, contra a petrolífera: “Todos os que adquirem ações de uma empresa estatal são conhecedores de que essas empresas cumprem papel estratégico para o Estado. (…) Então, uma sociedade de economia mista tem, acima do lucro e dos interesses dos seus investidores privados, o interesse do Estado. O Estado pode, por razões estratégicas e com amparo legal, adotar decisões bem diferentes daquelas que um acionista privado faria.” Sabendo-se da orientação doutrinária do atual do governo e desse amparo judicial, faz sentido essa queda de quase 10% das ações preferenciais em um único dia por um fato que já é mais do que conhecido para quem acompanha o mercado há algum tempo? Aliás, não custa lembrar aos acionistas minoritários da BB Seguridade, cujas ações subiram mais de 50% desde a abertura do capital, de que o acionista controlador da empresa de seguridade é o mesmo da Petrobras.
É verdade que a defasagem entre o preço dos derivados de petróleo importado e o praticado internamente tem afetado a geração de caixa da empresa e por consequência elevado o endividamento da empresa. Esse problema parece já ter sido captado pela administração e repassado ao governo. A decisão ocorrerá, senão em 2014, pois poderia comprometer a inflação em ano de eleição, no mais tradar em 2015.
Por fim, uma situação interessante para quem analisa a Petrobras por intermédio do múltiplo FV (valor da firma) /Ebitda, sendo o valor da firma a soma do valor de mercado (base acionária multiplicada pelo preço da ação) e da dívida líquida. Desde a capitalização, o valor da firma tem se mantido ao redor de R$ 400 bilhões, mas tem ocorrido uma alteração com aumento da dívida e redução do valor de mercado conforme demonstrado pelo gráfico elaborado pelo banco de investimentos Brasil Plural. Ou seja, a queda do preço da ação serviu basicamente para compensar o aumento da dívida. Com isso, o múltiplo FV/Ebitda ficou boa parte do período ao redor de 6 vezes, pois não houve grandes oscilações do Ebitda no período.
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Perfeito. Realmente não existe nenhum fato novo.
O único fato novo foi o fim da lua de mel Governo/Mercado no tocante Petrobras.
Creio que o fim da lua de mel não seja só devido ao Mercado ter relembrar o papel de uma estatal, como bem citou o ministro. O mercado percebeu uma ingerência do atual Governo, superior a qualquer possibilidade ou concretização de bem estar da economia e sociedade, ao utilizar a Petrobras para garantir os objetivos últimos do Estado.
Se o governo quer controlar a empresa tudo bem , abaixe os impostos sem reduzir os dividendos prejudicando os investidores , e ou se gastamos mais combustível do que produzimos , deve-se repassar estes custos adicionais ao consumidor não só apenas subir o combustível num todo.
Quer vender mais carros como esta fazendo para arrecadar e manter empregos beneficie todos sem prejudicar outro setor que também gera emprego e renda
O fato que não reajustar os preços defasados e não ter um politica transparente de aumento ou redução é prejudicial a todo mercado pois teremos um inflação contida e os reajustes virão sem dúvida no futuro o que poderá confirmar o descrédito dessa equipe econômica do atual governo.
permanente deficit en balansa comercial e saida de dolares producida pela petro desstimula investimento extrngeiro direto a consecuencia no es solo inflaçaon e perda de confiansa de capital externo os inversores internacionaes miran o brasil pelos resultados da petrobras
Excelente post André. Serve para relembrar que para investir em estatais, tem de aceitar a ingerencia do governo. Poderia comentar sobre uma outra estatal, a Cemig ? Ela fará um aumento de capital com uma bonificação no mínimo, estranha: só emitirá ações preferenciais. Qual será o objetivo além do alegado aumentar a liquidez das preferenciais, quando deveriam procurar aumentar a liquidez das ordinárias.
http://cemig.infoinvest.com.br/ptb/11043/AVISOAOSACIONISTAS_deliberacoesRCA09122013_por.pdf
A Petrobras não subsidia combustível, subsidia impostos para os governos central e estaduais. No fundo, quem tira a rentabilidade da Petrobras nos combustíveis são os impostos logo, o acionista majoritário nada perde em relação à Petrobras, embora perca em relação ao mercado, já que tem dívida mobiliária altíssima e tem de elevar os juros dos títulos públicos.
Olá André,
Parabéns, gostei muito do post, é bastante instrutivo para a análise recente de Petrobrás em um momento conturbado para o mercado de ações brasileiro.
Um excelente 2014.
Elias
Excelente comentário. Foge do lugar comum de comentaristas que repetem como papagaios os mantras da situação decadente da Petrobras. É importante enfatizar a atuação de agência de desenvolvimento representada pela Petrobras no Brasil. O mercado acionário é risco, portanto, não adianta chorar.
Prezado André,
Não podemos esquecer que a Petrobrás não é uma empresa puramente estatal e sim uma empresa de capital misto, onde deve-se entender que há uma confluência de interesses , quando o acionista majoritário convida o mercado a participar do negócio , mostrando seus atrativos econômicos
e depois de maneira intempestiva usa de seu poder de voto para forçar a companhia a seguir de maneira sega seus objetivos próprios, é no mínimo desonesto. Esta situação é comparável a um golpe.
Se tivessem dito em 2010 , que a empresa não poderia ter liberdade para definir sua política de preços, provavelmente não teriam captado cerca de 27 bilhões em dinheiro de seus sócios minoritários.
O que está acontecendo com a Petrobrás é uma quebra de contrato, o descumprimento sistemático de seu estatuto, a prática de uma gestão temerária encoberta pela falsa premissa de que objetivos maiores devem ser preservados, como o controle da inflação.
Eu tive a oportunidade de vivenciar vários planos econômicos neste país , e sempre que a opção de controle inflacionário foi o controle de preços, as consequências foram catastróficas , indo do desabastecimento a uma retomada violenta do processo inflacionário.
O que se vê aqui, é sim. uma luta desmedida para se garantir o poder.
Luís, perfeito a sua análise!
andre gosto muito de ler suas materias acho voce uns dos melhores pois sempre diz oque estou pensando a respeito do mercado de ações.
acho voce muito honesto em seus comentarios e materias,por isso gostaria que voce me esclarecesse uma duvida que no meu entender é ilegal.
invisto no mercado de ações por uma corretora atráves da internet,e recentemente começou a aparecer na busca de cotações no momento em que elas entram em leilão as letras ABR na frente dos valores,isso me impede de ver os valores ofertados,reclamei com minha corretora ela me diz que é normal,mas não me convenceu até porque acho que se deve ter transparencia,fica impossivel voce mandar ordens,ou altera-las.gostaria muito de ouvir de voce se isso é legal,sempre ouve esse tipo de ordem ,ou é ilegal ja que fere meu direito de ter acesso aos valores,parece me que estou em uma licitação nao em um leilão.se for atendido muito obrigado.e parabens pela coragem de falar a verdade.abraços joão carlos.
Bom dia, João Carlos
Voce pode observar as ordens de compra e venda durante o leilão. Mas tendo uma visão de médio prazo e baseando-se na análise fundamentalista, o ganho obtido com o preço de fechamento tende a ser imaterial. Será que vale a pena essa preocupação?
Abraço
André Rocha
Prezado, apesar de concordar com diversos pontos do texto, algumas imprecisoes contidas nele mostram como a imprensa sabe muito pouco sobre a Petrobras, escrevendo muitas informacoes baseadas em fatos incorretos e retirados sabe-se la de onde. O pre-sal e produzido pela Petrobras desde 2009, quando foi realizado o primeiro teste de producao da area na Bacia de Santos. Ja em 2010, foi instalado o primeiro sistema definitivo de producao, a plataforma do tipo FPSO chamada de Cidade de Angra dos Reis. Em 2013, duas novas unidades definitivas foram instaladas na area, o Cidade de Sao Paulo e o Cidade de Paraty. A primeira unidade citada ja produz perto de 95 mil bpd, enquanto as outras duas tem producoes da ordem de 20-30 mil bpd, pois ainda estao cada uma com apenas um poco produtor interligado. Lembrando que todas estas unidades sao projetos de parceria, sendo estes numeros nao 100% da Petrobras. A perspectiva de que em 2014 deve ocorrer um salto significativo de producao tambem e incorreta. Pelo plano atual de investimentos, este salto deve ocorrer em 2016, embora nos proximos dois anos a producao deva subir um pouco. Fico surpreendido como encontro com frequencia este tipo de texto baseado em informacoes totalmente imprecisas e sem base nenhuma em informacoes oficiais disponiveis publicamente.
André, tudo bem?
Passados 2 anos desta sua análise, e após o Tsunami que se abateu sobre a PETRO, gostaria de acompanhar nova análise sobre o momento e perspectivas atuais. Já sei, é um “pepino”, más confio nas suas avaliações.
Grande Abraço,
Sérgio