O investimento em bolsa nunca fez sucesso entre os consultores financeiros. No cenário atual de elevação da taxa Selic pelo Banco Central, o desprezo por esse tipo de aplicação aumenta. Essa estratégia faz sentido? A bolsa é recomendável para qualquer tipo de investidor? Quais as diferenças entre os fundos de ações? Descubra qual tipo de fundo atende mais a seu perfil.
O passado de aplicações de rentabilidade elevada e baixo risco afastaram o investidor brasileiro da bolsa. Apesar da alta recente da Selic, o patamar atual de juros é um dos mais baixos da história. Nesse contexto, a bolsa é indicada a qualquer investidor? Não. Antes de pensar em investir para o longo prazo, a pessoa física deve constituir uma reserva financeira para suportar imprevistos como perda de emprego e doenças e despesas de curto prazo como viagens e festas. Nessa reserva emergencial, aplicações de alta liquidez e baixo risco são fundamentais. A rentabilidade deve ficar em segundo plano. Contudo, concluída essa primeira etapa, o investidor deve pensar em uma poupança de longo prazo. E essa parcela exige diversificação. Aplicações com maior prazo de maturação, de maior risco e de menor liquidez devem fazer parte da carteira. Aqui, o investimento em ações passa a ser fundamental.
É verdade que, em linhas gerais, a elevação momentânea da Selic para debelar a inflação trabalha contra a bolsa. A razão é simples: juros altos elevam as despesas financeiras das empresas e reduzem a atividade econômica com impacto sobre a receita das companhias. Com resultados mais modestos, o desempenho das ações é prejudicado. Mas é possível encontrar empresas mais resilientes ao cenário adverso. Dessa forma, mesmo fundos de ações tradicionais ou carteiras próprias podem apresentar boa rentabilidade. Além disso, a indústria de fundos hoje apresenta outras opções. Há os fundos “long-short”, por exemplo, onde uma parte da carteira está comprada em algumas ações, enquanto outra parte está “vendida”, ou seja, o fundo ganha com a queda dessas ações. Nesse caso, apesar de o fundo ser classificado como de ações, a exposição líquida à bolsa pode ser baixa ou neutra. Há, ainda, os fundos “long biased” onde o gestor possui discricionariedade para administrar a parcela comprada, aumentando-a em momentos favoráveis à bolsa e reduzindo-a em cenários adversos.
O importante é que o investidor se interesse pelo tema para enfrentar o novo mundo de juros baixos. Ao contrário da insossa aplicação em renda fixa, o mercado acionário é fascinante. O investimento em ações não é um cassino como apregoado pelo senso comum. Existem técnicas como o método do fluxo de caixa e os múltiplos para avaliar as empresas. Com algum estudo, o mercado acionário pode abrir uma gama enorme de conhecimentos ao aplicador no campo da economia, contabilidade, direito societário e gestão de negócios. Esse conhecimento não é estéril. Entender porque a OGX capitulou e como foi a disputa entre Abilio Diniz e o grupo Casino pela posse do Pão de Açucar podem render gostosas discussões com os amigos.
A redução estrutural dos juros veio para ficar, apesar da alta momentânea da Selic. A bolsa terá que fazer parte da sua vida, caso contrário seu bolso sentirá as consequências.
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Além do rendimento financeiro, aplicar em renda variável traz um enorme aproveitamento intelectual em campos como estratégia, economia, finanças, matemática… E num cenário de juros em patamares civilizados, será tema obrigatório também para os consultores financeiros qualificados.