A economia brasileira tornou-se mais eficiente nos primeiros anos da década passada o que contribuiu para a expansão da margem operacional das companhias. Contudo, o ciclo virtuoso parece ter se exaurido. Por que isso ocorreu e como as empresas devem encarar esse novo momento?
Se observarmos o desempenho da economia brasileira nos últimos 10 anos, percebemos dois períodos distintos. No primeiro, a produtividade, medida pela produção sobre horas trabalhadas, cresceu consistentemente. Ao mesmo tempo, a margem operacional das companhias integrantes do índice acionário IBrX também se elevou, partindo de 16,8% em 2003 e alcançando 20,6% em 2008. As razões, além do aumento da produtividade, são várias: a nova lei de falências; a introdução de medidas que reduziram o custo do crédito como o instituto da alienação fiduciária, do patrimônio de afetação e a criação do crédito consignado; a melhora na relação de troca entre os produtos comercializados pelo país vis-à-vis os importados o que reduziu a vulnerabilidade do balanço de pagamentos; o aumento da massa salarial; a redução consistente dos juros reais. Mas a festa se encerrou com a crise do sub prime. A produtividade despencou ainda em 2008, recuperou-se no ano seguinte, mas vem patinando nos últimos três anos. A margem das empresas teve comportamento semelhante com defasagem de um ano para o desempenho da produtividade: caiu em 2009, ensaiou alta em 2010, mas despencou em 2011 e 2012 quando atingiu o nível mais baixo dos últimos dez anos. A elevação dos custos de insumos importantes como energia e mão de obra também colaborou para o mau desempenho das empresas.
Como as empresas podem encarar esse novo mundo de baixa produtividade? A resposta pode ser encontrada observando-se o que algumas empresas têm feito para superar esse momento:
(i) Controle de custos – Como já disse Marcel Telles, ex-presidente da Ambev: “custos são como unhas precisam ser periodicamente cortados”. Esse conselho é sempre válido, mas ganha importância em momentos delicados. A cervejaria mantém essa estratégia. Apesar do cenário conturbado, sua margem se elevou de 37% em 2008 para 43% em 2012.
(ii) Consolidação – uma das formas mais utilizadas para crescer é via aquisição de concorrentes. Além de retirar um competidor do mercado, o aumento do faturamento em proporção superior ao dos custos contribui para o incremento da margem operacional. A maior parte das empresas que abriu o capital nos últimos anos indicou como principal motivo para a captação dos recursos a consolidação do seu mercado de atuação. Nem todas foram felizes, mas há casos de sucesso como a DASA do ramo de análises clínicas, as empresas de educação e as farmacêuticas, por exemplo.
(iii) Investimentos produtivos – de acordo com o modelo de Gordon, o preço de uma ação é função dos dividendos, da taxa de desconto e do crescimento do lucro por ação. Assim, apesar da crise, as empresas não podem negligenciar os investimentos em projetos rentáveis sob pena de comprometer o crescimento dos lucros e, por consequência, o preço de sua ação. Apesar da crise, a Suzano manteve parte de seus projetos de expansão com visão de longo prazo. Os investidores não ficaram indiferentes. O preço da ação dobrou nos últimos 12 meses.
(iv) Inovação – A empresa não pode se preocupar apenas com o crescimento da capacidade produtiva. Gastos com pesquisa e desenvolvimento permitem criar novos produtos, além de melhorar a qualidade. Essa preocupação é grande na indústria de cosméticos. 65% da receita da Natura em 2011 foi formada por produtos lançados nos últimos 24 meses.
Por fim, um lembrete. A queda recente da margem das empresas preocupa. Mas nem sempre o declínio da margem é uma má notícia. Não é uma verdade universal. As empresas podem querer ganhar participação de mercado com guerra de preços ou entrar em novos países ou iniciar a produção de novos negócios com margens menores, por exemplo. Essas estratégias contribuem para elevar a geração de caixa e são benéficas caso tragam retorno superior ao custo de capital da companhia. A obsessão dos analistas pela evolução da margem pode ter sua origem no período de estagnação da economia brasileira nas décadas de 80 e 90. Em uma economia de baixo dinamismo, a melhora do resultado operacional invariavelmente recaía sobre controle de custos e/ou repasse de preços o que tinha o poder de elevar a margem da empresa. Contudo, as oportunidades de crescimento hoje são mais diversificadas. Com isso, ater-se apenas a uma análise maniqueísta – margem em elevação é positivo; margem em queda é negativo – pode mostrar-se, mais do que simplista, equivocada.
(*) O artigo foi publicado originalmente na revista Totvs Experience Edição #1 (www.totvs/experience) .
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Parabéns. Gostei muito do texto. Havia publicado no meu grupo do Linkedin, dedicado à area gráfica, um pequeno comentário nesse sentido. Segue…
abraço,
Davi
O AXIOMA GRÁFICO
Assim como no enunciado físico, “dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, no mesmo momento”.
Fazer mais usando menos também parece ser um axioma para o empresariado brasileiro.
Falo isso como parte desse segmento, assim, essa crítica vale pra mim também.
Cá entre nós, produtividade, fazer mais usando menos, não é nosso forte.
Precisa fazer mais? Contrata mais, compra mais máquina, enfim, gasta mais. Com um agravante: no Brasil não
há financiamento para a produção. Não existe capital de risco. A não ser o nosso mesmo. Então se tira do giro
para financiar o equipamento que irá se pagar em 5, 6 anos. m
Resultado, empresas descapitalizadas e frágeis.
A palavra produtividade leva diretamente à imagem daqueles pacotes importados, caros, que dão um trabalho
enorme para implantar e que, no fim, resulta pouco. Ou é associada a consultores que passam o dia “fuçando”
para achar defeitos nos setores que nós mesmos achávamos ótimos.
Produtividade é cultura. Como é honestidade, profissionalismo, etc., etc.
Produtividade é um valor. Sua busca tem que ser instintiva e constante. Olhar cada tarefa, cada atividade ou
movimento pensando “será que não tem um jeito mais eficiente de fazer isso?”
Ou até mesmo provocar constantemente o contraditório e questionar “será que não há outro ângulo para enxergar
esse problema?
Fato é que, com as margens decrescentes, vamos acabar descobrindo que a busca pela produtividade é uma
batalha sem tréguas. Cada centavo vai passar a contar. Vamos aprender isso do jeito mais doloroso, mas vamos
aprender.
Davi Domingues
Parabéns uma aula para investidores seguir o texto na escolha de seus investimentos para longo prazo e minimizar os riscos e apurar resultados satisfatórios.
Cases com AMBEV, TOTVS, WEG, GRANDENE, ALPARGATA, DURATEX,MARCOPOLO, servem de exemplo como escolher para resultados de longo prazo.
Andre Boa Tarde! Me desculpe mas este estudo parece apresentacao do PT…Comeca em 2003?! E antes disso?! Seria bom, olhar pelo menos os numeros depois de 1994, quando passamos a ter numeros mais normais na economia. Fora isso, muito bom! Mas longe de me deixar um pouco mais animado com o nosso mercado. Sempre me vem a mente o indice CAC40 que em 1994 andava lah pela casa dos 3 mil pontos…E hoje estah no mesmo lugar. Coincidencia?! Sim, paises socialistas tem muita dificuldade em ver suas empresas deslancharem.
William, boa tarde!
O texto é completamente apartidário. Não sou filiado a qualquer partido político. O período escolhido foi o de dez anos por apresentar diferenças relevantes dentro do mesmo período. Minha única simpatia por agremiações é a meu clube do coração.
Abraço
André Rocha
Prezado, eu sei estah de parabens como sempre…Eh que como a bolsa “parou” nos ultimos anos, e como morei na Franca muitos anos, me acostumei a ver o governo fazer de gato e sapato as empresas. Foi o que vimos aqui nos ultimos 3 anos e nao podemos nos omitir em relacao a isso, pois bem sabemos que sao as empresas que sao o pulmao e coracao de um pais! Abracos William
Boa noite André
Por acaso vc tem ideia do pq a AMBEV mudou o CNPJ?
De: 02.808.708/0001-07 AMBEV
P/: 07.526.557/0001-00 AMBEV S.A.
Balanço tb apresenta números diferentes
COMPANHIA DE BEBIDAS DAS AMÉRICAS-AMBEV
http://www.rad.cvm.gov.br/enetconsulta/frmGerenciaPaginaFRE.aspx?CodigoTipoInstituicao=1&NumeroSequencialDocumento=32171
Lucro líquido 9M13 Atribuído a Sócios da Empresa Controladora: 6.506.226
Lucro líquido Consolidado 9M13 Atribuído a Sócios Não Controladores: 129.029
AMBEV S.A.
http://www.rad.cvm.gov.br/enetconsulta/frmGerenciaPaginaFRE.aspx?CodigoTipoInstituicao=1&NumeroSequencialDocumento=32207
Lucro líquido Consolidado 9M13 Atribuído a Sócios da Empresa Controladora: 4.869.507
Lucro líquido Consolidado 9M13 Atribuído a Sócios Não Controladores: 1.733.968
No meu entender essa mudança garfou 1,6 bilhão dos sócios controladores. Pode?
Caro Domingos,
A empresa está em um processo de reestruturação societária. Além da incorporação de outras sociedades, haverá transformação de PNs em ONs.
Abraço
André Rocha