Quais ações podem sofrer mais com a atuação da BNDESPar?

Com o crescimento da dívida bruta e a possibilidade de redução do “rating” do país, o governo federal decidiu reduzir os aportes feitos nos bancos públicos. Para o BNDES, a falta dos recursos do Tesouro Nacional pode ser compensada parcialmente com a venda de ações da carteira da BNDEPar. Mas isso pode ter um impacto sobre o preço das ações no mercado. Quais papéis compõem a carteira da BNDESPar e qual a participação dessas ações no valor de mercado e no “free float” de cada empresa? Com base nesses dados, é possível ver quais ações podem sofrer mais caso o banco público venda parte de sua carteira.

De acordo com o Valor Econômico, o BNDES “estimou em R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões a necessidade de recursos para encerrar 2013. Mas com a venda de ativos, o repasse seria inferior a R$ 20 bilhões”. A carteira de investimento em ações disponíveis para venda era de cerca de R$ 40 bilhões em junho de 2013 segundo o balanço da BNDESPar. Mais da metade desse valor (R$21,8 bilhões) refere-se à participação em ações da Petrobras. Apesar de comporem a parcela disponível para venda da carteira, o repórter Fernando Torres do Valor apurou que o Conselho Monetário Nacional impediu que essas ações fossem atualizadas a valor de mercado, alegando que elas não seriam negociadas no curto prazo.

Assim, calculamos a participação do BNDESPar nas demais empresas em relação ao valor de mercado e ao ‘free float” (as ações negociadas no mercado excluídas aquelas detidas pelos controladores) de cada companhia. Não conseguimos dados para o cálculo das ações da Oi, Renova e MPX (atual Eneva). São R$ 17 bilhões distribuídos em 22 empresas.

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A maior participação em volume financeiro era em Vale PNA (VALE5) (R$ 5,964 bilhões), seguida de CPFL (CPFE3) (R$ 1,655 bilhão) e Suzano (SUZB5) (R$ 1,609 bilhão). O BNDESPar tem participação relevante no capital de diversas empresas como Marfrig (19,5%), Suzano (17,6%), Light (13,5%), ALL (12,1%), Eletrobras (11,9%) e Triunfo Participações (11,1%). As ações da BNDESPar superam 20% do “free float” em  Eletrobras ON (64%), Suzano PNA (42,3%), Gerdau ON (37,8%), Marfrig ON (29,2%), Light ON (28,2%), Triunfo (27,7%) e CPFL (27,2%). Ou seja do total das ações ordinárias da Light no mercado, por exemplo, 28,2% delas pertencem ao BNDESPar. Em decorrência do peso relevante da BNDESPar no ‘free float” da maioria das empresas da lista, o anúncio de uma possível venda dessas ações pode influenciar negativamente o preço desses papéis. Consciente do impacto baixista sobre o preço das ações caso decida vendê-las, o BNDES assegurou que não fará venda maciça de seus ativos, de acordo com a reportagem do Valor. Apesar do aviso, as ações nas quais o BNDESPar têm participação significativa no “free float” podem sofrer no médio prazo. Os investidores podem ficar receosos de comprarem agora tendo um fluxo de venda no sentido contrário. A espera pode siginificar comprar a um menor preço no futuro.

Não foram consideradas no estudo as ações de empresas nas quais a BNDESPar é controladora ou assina acordo de acionistas como JBS, Vigor, Fibria e outras.

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2 Comentários

  1. Mas não poderia ser o caso tb de aumento do valor justamente por conta do aumento da liquidez?
    Por outro lado vc aponta uma questão interessante q é a participação das ações em poder do BNDESPar no free float, e neste caso penso q inequivocamente a venda sem critérios causaria queda no preço das ações. Isto poderia ser facilmente remediado pelo anúncio de uma regra simples de não vender mais do q 5 ou 10% do free float das ações num primeiro momento.
    Outra questão interessante q esta venda se relaciona é s/ a entrada e saída do governo como estabilizador do preço das ações como ocorre no mercado de câmbio e no monetário. Se a bolsa cai, como ocorreu no final de 2008, não seria interessante q o BNDESPar entrasse comprando? Penso q falta um arcabouço legal p/ esta intervenção q me parece tão positiva quanto o é no caso do câmbio e da moeda.

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