É consenso de que investir em ações de empresas estatais apresenta maior risco devido às ingerências políticas. Mas, por outro lado, o mercado considera que governos do PSDB são mais amigáveis ao investidor privado, pois entendem sua importância para o desenvolvimento da economia. Contudo, recentemente estatais sob o comando do partido como Sabesp e Copel têm alterado essa percepção.
As ações de estatais são mais arriscadas. Não sem razão quando existem duas empresas similares do mesmo setor, as ações de empresas com controle privado geralmente apresentam prêmio sobre as das estatais. Caso clássico é o setor bancário quando se compara o Banco do Brasil (BBAS3) com o Itaú Unibanco (ITUB4) e o Bradesco (BBDC4). Como mostrei no post “Os riscos de investir em ações de estatais”, de 03/06/13, sociedades de economia mista podem ter outros objetivos que não a obtenção de lucro conforme determina o artigo 174 da Constituição Federal. Em disputa entre um minoritário e a Petroquisa, subsidiária da Petrobras, trecho do voto do ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça), responsável pelo processo, foi o seguinte: “Todos os que adquirem ações de uma empresa estatal são conhecedores de que essas empresas cumprem papel estratégico para o Estado. (…) Então, uma sociedade de economia mista tem, acima do lucro e dos interesses dos seus investidores privados, o interesse do Estado. O Estado pode, por razões estratégicas e com amparo legal, adotar decisões bem diferentes daquelas que um acionista privado faria.”
Comprovando que toda regra comporta exceções, Cemig, a companhia estadual de energia elétrica de Minas Gerais, é um exemplo clássico do melhor relacionamento do PSDB com os investidores quando comparado a outras siglas partidárias. Durante a administração de Itamar Franco (1999-2002), as ações de Cemig (CMIG4) apresentaram mau desempenho devido a relação conturbada do governo com o mercado. A entrada de Aécio Neves do PSDB no governo (2003-2010) contribuiu para uma melhor avaliação da companhia e, com isso, uma melhor performance dos papéis.
Mas as manifestações populares de junho parecem ter alterado essa convivência harmoniosa entre investidores e o PSDB. Reportagem do Valor “Ações da Sabesp sofrem na bolsa”, de 30 de agosto, mostra que após lua de mel entre acionistas e companhia nos últimos anos, as ações da empresa de saneamento (SBSP3) haviam caído 29,9% no ano (até 29 de agosto). A principal razão para a queda é o adiamento da revisão tarifária da empresa. O reajuste provisório concedido pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) foi de 2,35%, inferior aos 13% solicitados pela Sabesp. A empresa também não tem contribuído, pois tem se esquivado de conversar com os investidores. A teleconferência de resultados do segundo trimestre, prevista para 15 de agosto, foi cancelada. A definição do reajuste é importante para a geração de caixa da companhia para que esta pague suas dívidas e realize os investimentos. Por isso, a reação assustada dos investidores.
O governador de são Paulo Geraldo Alckmin também pensou em adiar o reajuste das tarifas das concessionárias rodoviárias, evento que prejudicou as ações do setor listadas na bolsa como CCR e Arteris.
No Paraná, o reajuste de 14,61% aprovado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para a Copel foi parcelado em duas vezes – 9,55% em 2013 e o restante em 2014. Essa decisão foi tomada a pedido do governador Beto Richa (PSDB), provavelmente como reação às manifestações populares de junho.
Esses eventos apenas comprovam o risco ao qual os investidores estão sujeitos ao alocarem seus recursos em ações de estatais. Por ora a máxima “há exceções que comprovam a regra” não tem valido. Nem mesmo as estatais do PSDB – antigas exceções à regra de que investir em estatais apresentam maior risco – têm sido poupadas.
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Prezado André Rocha, não entendo muito do assunto, mas em face dos preços das ações do BB serem mais em conta em face do risco de ser uma estatal, o valor relativo dos dividendos/preço de mercado desta empresa não seria vantajoso em relação a de um banco privado? Poderia nos falar sobre isso?
Oi Wellington
A pergunta é boa. O retorno de dividendos de BB é maior do que o de Bradesco e Itaú. Mas uma tese de investimento que se baseia apenas nos dividendos é pobre. Outras variáveis devem ser olhadas como o crescimneto dos lucros, por exemplo. Não se esqueça que o retorno com ações é composto de duas variáveis: o retorno com dividendos e o ganho de capital. O setor elétrico ano passado teve uma perda de capital que foi superior a 5/6 anos de dividendos. Por isso, olhar para as duas variáveis é fundamental.
Veja os seguintes posts sobre o assunto, pois eles respondem com mais detalhes sua pergunta: https://estrategista.net/mitos-e-verdades-sobre-viver-de-dividendos/ , https://estrategista.net/faz-sentido-investir-em-acoes-com-distribuicao-de-dividendos-elevada/ e https://estrategista.net/dividendo-e-importante-mas-nao-e-tudo/
Abraço
André Rocha
Ok, obrigado.
André, entendi a mensagem do post mas tenho a impressão de que as medidas recentes adotads porgovernos do PSDB estão muito relacionadas ás manifestações de junho. Só para ter uma idéia, como foi o desempenho de SBSP3 durante os anos dos governos do PSDB em São Paulo, ou seja: de 1994 até dez 2012 ?
No Paraná, as ações da Copel (CPLE3 e CPLE6) sofreram durante o governo de Roberto Requião que não é do PSDB. Resumindo, não é o partido em si, mas as circunstâncias políticas que derrubaram a cotação das ações e prejudicaram o desempenho das empresas.
Muito bom André.