O ambiente econômico atual é mais dinâmico e, por consequência, mais complexo. Mudanças tecnológicas disruptivas incomodam modelos de negócios antes inabaláveis. A gestão está mais complicada não somente por causa da tecnologia. O ambiente regulatório também se deteriorou no Brasil nos últimos anos. Essas mudanças dificultam também o trabalho de análise, tornando o investimento em companhias mais arriscado. Vários exemplos comprovam como o ambiente se tornou mais desafiador aos negócios.
Vivemos em um mundo obcecado por prazeres instantâneos. Isso vale para os indivíduos e para as companhias. A busca por resultados de curto prazo é ditada pelo mercado acionário, monitorando a administração das companhias trimestre a trimestre. Como reflexo o tempo de permanência dos presidentes executivos (CEOs) vem se reduzindo ao longo do tempo. Nos países desenvolvidos, o CEO conseguia se segurar no cargo por cerca de 11 anos, em média, há uma década. Hoje esse tempo se reduziu para 8. No Brasil, cuja economia é mais volátil, o trabalho do presidente dura, em média, apenas quatro anos. Esses dados são do “Estudo Anual de CEOs, Governança e Sucesso”, da consultoria Strategy&.
A tecnologia responde por parte da instabilidade. A concorrência já não vem apenas dos competidores tradicionais. Que o digam as companhias telefônicas que são pressionadas por aplicativos como WhatsApp e Skype. As indústrias da música e da mídia hoje são cópias anãs de si mesmas, exemplares diminutos de passados gloriosos. E há mais por vir: hotéis e até mesmo o chofer de taxi já são pressionadas por aplicativos. Muitos consideram que os bancos serão os próximos, vítimas das “fintechs”.
Falando em finanças, as empresas utilizam cada vez mais produtos financeiros, como por exemplo os derivativos. Essa estratégia pode ser saudável, mas pode gerar volatilidade aos resultados. Algumas erram na dosagem e acabam sendo aniquiladas. Quem não se lembra da Sadia e da Aracruz.
Contudo, as empresas não financeiras dependem cada vez mais de suas atividades financeiras para auferirem lucros. “Em especial nos Estados Unidos, as empresas não financeiras aumentaram em muito seus ativos financeiros. A proporção de ativos financeiros para ativos não financeiros pertencentes a firmas não financeiras aumentou gradualmente de 30% em 1950 para 40% em 1982. A partir daí disparou, chegando a 100% em 2001. Desde então caiu para 82% em 2008. Daí voltou a subir de maneira abrupta em 2009, atingindo um novo patamar de 104%, se estabilizando basicamente no mesmo nível.”, segundo Ho-Joon Chang, autor do livro “Economia: Modo de usar”. A seguir, o autor dá exemplos: em 2003, 45% do lucro da GE foi derivada da GE Capital; em 2004, 80% dos lucros da GM veio do braço financeiro GMAC e na Ford, a totalidade dos lucros veio da Ford Finance entre 2001 e 2003.
Além dos eventos citados acima, o Brasil ainda sofre do risco regulatório. As regras dependem do presidente de plantão. O setor elétrico é exemplar. Os betas da maioria das empresas calculados no período entre 2011 e 2016 aumentaram quando comparados ao quinquênio anterior. Esse indicador mede a relação entre a rentabilidade da ação da empresa com a performance do índice de mercado, o Ibovespa. Nos últimos cinco anos, além da lei que alterou as regras para e renovação das concessões, a crise hídrica aumentou os custos de geradoras e de algumas distribuidoras. Os betas dos papéis das empresas do setor, em geral, são inferiores a 1. Logo tendem a se desvalorizarem menos do que o Ibovespa em períodos de queda. Contudo, embora os betas continuem inferiores a 1, apresentaram forte elevação nos últimos cinco anos. Das 11 ações mais líquidas, apenas Celesc (CLSC4) e Cesp (CESP6) apresentaram queda do beta no período. Algumas – Cemig (CMIG4), Copel (CPLE6) e Eletropaulo (ELPL4) – apresentaram indicadores próximos a 1, ou seja, em média tendem a apresentar rentabilidade semelhantes ao do Ibovespa. Em outras palavras, as empresas do setor ficaram mais arriscadas.
O sonho de todo gerente é virar presidente. Isso é natural. Mas, caso o desejo se materialize, saiba que desafios e instabilidade lhe farão companhia.
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