A política de dividendos da Vale é a melhor?

O setor de mineração vive um dilema. Como conciliar a queda da geração de caixa ocasionada pela retração da economia chinesa com a consequente queda do preço das commodities e o pagamento dos dividendos aos acionistas? As políticas de dividendos das companhias mineradoras são distintas. Enquanto a Vale distribui dividendos condicionados aos resultados financeiros, Rio Tinto e BHP Billiton mantêm uma política de dividendos “progressivos”, cujo provento por ação aumenta ao longo do tempo. Quem está com a razão?

O Valor Econômico publicou uma interessante reportagem sobre dividendos em 6 de outubro – “Rio Tinto e BHP têm retorno progressivo para os acionistas” -, realçando as diferenças das políticas de dividendos da Vale e as das anglo-australianas BHP e Rio Tinto. A redução da geração de caixa provocada pela queda do preço das commodities fez com que essas empresas adotassem algumas medidas parecidas de forma a preservar a geração de caixa: venda de ativos não estratégicos, programa de corte de custos, busca pelo aumento da produtividade e melhor administração do capital de giro. Contudo em relação à distribuição de dividendos, uma das alternativas para reter caixa, as empresas têm adotado políticas distintas.

A reportagem cita que “a Rio Tinto aumentou em 12% o valor do dividendo por ação na primeira metade de 2015 sobre igual período de 2014”. Já “a BHP Billinton pagou dividendos de US$ 6,59 bilhões no ano fiscal de 2015, encerrado em 30 de junho, um pouco acima dos US$ 6,44 bilhões pagos no ano fiscal de 2014”. Esse valor foi superior ao lucro do exercício de US$ 1,9 bilhão. E a Vale? A mineradora brasileira deve pagar US$ 1,5 bilhão em dividendos em 2015, um corte de US$ 500 bilhões em relação ao dividendo proposto inicialmente.

A lógica da política de dividendos progressivos adotada pelas anglo-australianas é garantir um dividendo periódico mínimo que pode aumentar caso o lucro por ação do exercício também aumente. Essa estratégia é boa para fidelizar certos tipos de investidores como os aposentados que se utilizam dos dividendos para cumprir seus compromissos. Já a política de dividendos variáveis da Vale é dependente do ciclo econômico. Em anos de bonança, os dividendos aumentam e, em épocas de recessão como o atual, recuam.

Um dos grandes debates na teoria de finanças é se a distribuição de dividendos afeta o preço da ação. Há correntes que acreditam que sim, enquanto outras defendem que o pagamento de proventos é irrelevante para determinar a cotação do papel.

Acredito com base na minha experiência que os dividendos afetam o preço da ação. Ações de empresas mais generosas com os acionistas tendem a negociar com prêmio sobre as companhias que distribuem menos recursos. Contudo, o pagamento dos dividendos não podem comprometer investimentos produtivos, pois são esses que garantirão o crescimento sustentável do lucro no médio prazo.

Assim, caso Rio Tinto e BHP prejudiquem os investimentos prioritários ou, ainda, aumentem o endividamento para manter a política de dividendos progressivos, verão suas ações sofrerem no médio prazo.

A Vale parece ter uma tática mais sustentável, mostrando disciplina de capital. Os dividendos, embora menores, continuam sendo pagos e a companhia mantém seu compromisso com o programa de investimentos de US$ 8 bilhões em 2015.

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