Cientistas políticos têm se esforçado para entender o fenômeno “Marina Silva”. Como uma candidata com tempo escasso no horário eleitoral gratuito e base de apoio partidária tímida tem ameaçado o favoritismo da Presidente Dilma Rousseff? Segundo especialistas, Marina serve de resposta à desilusão de parte do eleitorado com a política tradicional. Seria a candidata que melhor conseguiu captar as insatisfações nas passeatas de junho de 2013. Além disso, após 12 anos, o governo do PT já mostra sinais de desgaste e os eleitores procuram alternativas. Como a candidatura de Aécio Neves do PSDB não deslancha, os votos dos indecisos e até mesmo os do próprio candidato tucano parecem migrar para a postulante do PSB.
Essas teses explicam em parte o fenômeno, mas creio que uma das principais razões reside sobre uma variável macroeconômica que afeta sobremaneira o orçamento doméstico: a inflação. Outra lição que a candidatura Marina Silva ensina no âmbito das finanças pessoais é sobre a alocação de ativos. O atual rali da bolsa mostra que o investimento em ações não é tão indesejado quanto alardeado.
Apesar de se manter dentro do intervalo do regime de metas de inflação (entre 2,5% e 6,5%), a inflação anual tem sido elevada. Considerando-se o segundo governo Lula e o quadriênio de Dilma, a inflação alcançou 55,4%.
Esse número desestrutura o orçamento de qualquer família. Alguns trabalhadores têm conseguido repor a inflação nas negociações salariais, mas grande parte não. Além disso, quem disse que seus gastos mensais, leitor, são iguais aos da cesta de produtos e serviços representada pelo IPCA? Provavelmente sua inflação é bem superior à inflação oficial. Pense no percentual de aumento do seu plano de saúde, do colégio de seus filhos e da alimentação em restaurantes nos últimos anos. Ao corroer a renda, a inflação retira poder de compra, o que gera desconforto. É provável que o incomodado consumidor/eleitor não consiga fazer uma relação entre essa perda de poder aquisitivo e a inflação. Mas a prática lhe ensina que é preciso, com o dinheiro curto, eleger prioridades de consumo, o que é sempre desagradável.
O fenômeno Marina não trouxe lições apenas sobre o orçamento doméstico, mas também sobre investimentos. A aplicação em renda variável sempre foi vista com desconfiança no Brasil. A competição desleal dos juros elevados transforma a aplicação em bolsa em algo menor. Mesmo alguns que já possuem reserva financeira substancial mantêm-se longe da bolsa. Fugindo do discurso padrão, recomendo para esses que mantenham continuamente um percentual alocado em bolsa. Dependendo do cenário, essa proporção pode ser maior ou menor, mas algo sempre deve ser destinado ao mercado acionário. O montante varia conforme o perfil de risco e as necessidades do investidor.
Quem imaginaria o desempenho atual do Ibovespa, que sobe 35% desde a mínima em 14 de março? O leitor pode contra-argumentar: mas e se a bolsa tivesse caído no mesmo período? Um investidor com reservas financeiras teria tempo suficiente para esperar a recuperação. Além disso, como já mostrei em artigos anteriores, apesar de não derrotar o CDI nos últimos anos, uma carteira de ações equilibrada tem cumprido o papel de no mínimo preservar o capital. Considerando-se a rentabilidade média nos últimos cinco anos dos fundos de ações do tipo livre divulgada pela Anbima, o retorno foi negativo apenas em 2011. Não é preciso ir muito longe. A Carteira Valor divulgada mensalmente pelo jornal Valor com base na seleção de ações de um grupo de corretoras apresentou desempenho similar: rentabilidade negativa em apenas um único ano, 2011. Além disso, ao se investir em uma carteira de ações balanceada, é praticamente impossível que o investidor perca todo o seu investimento. Esse risco pode correr quem adquire ações de apenas uma empresa, mas não quem compra um portfólio de ações. O rali atual da bolsa mostrou que não existe o “momento certo” para adquirir ações. Esse investimento deve servir como diversificação e para quem tem horizonte de longo prazo. Por isso, investidores com reservas limitadas devem se manter afastados, pois podem precisar dos recursos a qualquer momento. O fenômeno “Marina Silva” ensinou de forma tergiversa que a aplicação em bolsa não é tão ruim como alardeiam.
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