Sua carteira de ações é equilibrada?

Ao analisar a carteira de ações de alguns leitores percebo inconsistências que se repetem. Quais os principais erros cometidos pelos investidores?

Um dos serviços do blog “O Estrategista” é a análise da carteira de ações dos investidores. Após o leitor me enviar sua carteira, peço-lhe para responder a um questionário para que possa avaliar a sua propensão ao risco. De posse da carteira e do questionário, elaboro um relatório que contém as seguintes informações:

1) análise setorial;

2) o dividend yield esperado (retorno com dividendos) de 2014 da carteira e de cada papel;

3) o beta da carteira;

4) potencial de valorização em relação ao preço alvo de cada papel e da carteira;

5) a recomendação dos analistas por papel;

6) avaliação da carteira vis-à-vis o seu perfil de risco;

7) a consistência de resultado nos últimos anos das empresas que compõem a carteira;

8) o múltiplo P/L e FV/Ebitda de cada papel e comparado ao do setor;

9) uma breve análise de cada papel;

10) recomendações de alteração ou manutenção.

Um dos investidores apresentava uma carteira contraditória. Apesar de excessivamente diversificada em número de ações (28), cerca de 40% do portfólio era exposto ao setor bancário: Itaú Unibanco – ITUB4, Itaúsa – ITSA4, Bradesco – BBDC4, BTG Pactual – BBTG11 e Banco do Brasil – BBAS3.

Outra falha que tem sido cometida com frequência é a falta de ações de empresas que podem se beneficiar de um câmbio mais depreciado. Como nos últimos anos, a aposta foi em empresas com atividades voltadas ao mercado doméstico, as exportadoras têm sido desprezadas. Mas a normalização da política monetária e a retomada do crescimento das economias desenvolvidas podem favorecer empresas com receitas atreladas a moedas estrangeiras. Nunca demais repetir que o futuro não é uma reedição do passado.

Outro leitor possuía cerca de 40% da sua carteira exposta a empresas às voltas com reestruturação societária: troca de controle acionário, consolidação ou fechamento de capital. O portfólio era recheado de TIM, Anhanguera e Providência.

Não critico a estratégia de aplicar em ações com possibilidades de obter ganhos extraordinários decorrentes de reestruturações societárias. Trabalhei em uma gestora, cujo fundo de ações foi o segundo mais rentável da indústria brasileira entre 1998 e 2001 principalmente em decorrência dessa estratégia. O que reprovo é o peso excessivo nessa tática. Alocar um máximo de 20% do portfólio me parece mais sensato.

As ações ordinárias da TIM Brasil (TIMP3) ilustram o que acabo de dizer. Sua cotação tem sido ditada pelas notícias de troca de controle acionário, pois caso o evento ocorra, o novo controlador deve oferecer um prêmio sobre a cotação de mercado.

TIM

Entre 26 de agosto de 2013 e 22 de janeiro de 2014, as ações se valorizaram 50%. Contudo incertezas sobre a operação societária fizeram a ação se desvalorizar após essa data.

Mas em 27 de março de 2014, o Valor Econômico noticiou “Avanço em fusão traz otimismo sobre a TIM”. As ações reagiram. Por quê? A fusão entre a Portugal Telecom e a brasileira Oi abriria caminho para um possível fatiamento da TIM entre Telefônica, Claro e Oi.

Contudo, quatro dias depois, o presidente da subsidiária brasileira, Rodrigo Abreu, deu a seguinte declaração: “A TIM Brasil não está a venda” o que fez as ações recuarem 9% até o fim de abril.

Mas ações se recuperaram novamente após a saída da espanhola Telefonica do Conselho da TIM Italia, pois aumentaram-se as expectativas de que a espanhola poderia assumir o controle da subsidiária brasileira. O bom momento das ações durou até o fim de junho.

Contudo, a partir do início de agosto, a notícia de que a GVT poderia se unir a TIM (logo sem troca de controle) fez com que as ações assumissem um movimento baixista. O cenário ainda é incerto, pois a Telefonica fez uma contraproposta. Contudo, a consolidação da TIM com a GVT parece o caminho mais provável o que afasta definitivamente a troca de controle da TIM Brasil e, com isso, a obtenção pelos minoritários de um prêmio sobre a cotação de mercado. Assim, as ações da TIM devem passar a negociar baseadas em seus resultados operacionais.

Segundo dados do sistema de análise fundamentalista S&P Capital IQ, hoje o múltiplo P/L de TIMP3 com base no lucro esperado de 2015 é de 15,3 vezes, ágio de 18,6% sobre o P/L de Telefonica Brasil (VIVT4) de 12,9 vezes. Em um cenário sem troca de controle esse prêmio permanecerá? Acho pouco provável, pois a Telefonica Brasil tem uma estrutura mais sólida com empresas de telefonia fixa, telefonia móvel e TV por assinatura. Quem investiu esperando o evento societário deveria estar ciente dos riscos.

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