O ocaso de alguns setores na bolsa

O Ibovespa é criticado pela concentração excessiva em ações de companhias de setores cíclicos, especialmente serviços financeiros e commodities. Mas já foi pior. No início da última década, apenas um setor – o de telecomunicações – representava quase 50% do índice. Atualmente, o segmento responde por apenas 2,4%, representado por três empresas: Oi (Telemar e Brasil Telecom), Telefonica Brasil (a antiga Telesp com a Vivo) e TIM. Outro setor que vem perdendo importância nos últimos tempos é o siderúrgico. Por que isso ocorreu? O futuro pode ser mais alvissareiro?

No final da década de 90 e início dos anos 2000, os analistas mais importantes do mercado acionário brasileiro eram os de telecomunicações. Qualquer análise mal feita poderia comprometer o desempenho do fundo ou da carteira vis-à-vis o principal indicador da bolsa brasileira, o Ibovespa. A configuração da equipe de uma das gestoras na qual trabalhei ilustra o que digo. Enquanto um analista era responsável por apenas um setor – o de telecom –, outro cobria bancos, siderurgia, varejo e mineração. Naquela ocasião ser pessimista com o setor gerava polêmicas (sei bem o que digo). Como falar mal do principal setor da bolsa?

Após a privatização em 1998, as empresas viveram seu auge investindo pesadamente para atender a demanda reprimida tanto em telefonia fixa quanto celular. As receitas cresciam vigorosamente. Mas em 2001/2002 já era possível perceber que mudanças estruturais estavam a caminho. A telefonia fixa, destino de grandes investimentos, sofria com novas tecnologias que lhe roubavam receitas como o voip (voice over internet protocol). O crescimento viria da telefonia móvel. Contudo sua base de usuários crescia sobre o serviço de margens mais comprimidas – o de aparelhos pré pagos. Além disso, a competição acirrada exigia (e ainda exige) que as empresas subsidiassem os aparelhos. É possível dizer que o sistema só vingou em decorrência das elevadas tarifas de interconexão: a operadora na qual a chamada foi originada é obrigada a pagar uma receita para a operadora contactada.

Além disso, enquanto o mercado acionário brasileiro vivia uma nova fase de melhoria da governança corporativa com a aprovação de alterações na Lei das SA (Lei 10.303/2001), posição mais ativa da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e introdução do Novo Mercado, praticamente todas as empresas do setor tiveram embates com os minoritários. Resultados operacionais inconsistentes e litígios societários foram a senha para a derrocada do setor.

E o futuro? Não sou otimista. Novas tecnologias continuam maltratando os serviços das operadoras. Os torpedos praticamente desapareceram com o surgimento do WhatsApp e do Facebook. A exigência de melhoria na infraestrutura exige dispêndios frequentes com novas frequências como o aguardado leilão de 4G. Além disso, a competição permanece acirrada o que exige a continuidade da política de subsídio de aparelhos. Por fim, problemas de governança corporativa persistem como a recente conturbada operação societária da Oi e a perda com a compra de títulos da controladora da Portugal Telecom.

O setor siderúrgico brasileiro também não vive um bom momento. A participação do segmento no Ibovespa é de 2,685%, representado por quatro empresas: Gerdau (GGBR4), sua controladora Metalúrgica Gerdau (GOAU4), CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM3). As razões para a má fase são:

1)    Demanda externa deprimida – a crise nos países desenvolvidos afetou as empresas brasileiras de duas formas: restringiu o mercado de exportação e tornou mais atrativo o mercado brasileiro para empresas chinesas, aumentando a competição;

2)    Elevação dos custos, especialmente, de energia elétrica e minério;

3)    Câmbio apreciado o que facilita a importação e dificulta a exportação.

Contudo, sou mais otimista com o setor siderúrgico do que com o de telecomunicações. Embora a margem Ebitda em 2007 (antes da crise) era bem superior às verificadas posteriormente, já houve recuperação da margem das três empresas em junho último em relação a de 2013.

Siderurgica_margens

Além disso, boas notícias podem estar a caminho. A retomada da atividade das economias desenvolvidas deve alargar a demanda para as siderúrgicas brasileiras e reduzir a entrada das chinesas em nosso mercado. A normalização da política monetária nos EUA e na Europa tende a desvalorizar a nossa moeda, impulsionando nossas exportações. Por fim, a verticalização das empresas nacionais com o investimento na produção própria de minério reduz a influência do preço exógeno da commodity.

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